Resumo Resumido de “Une Season En Enfer”
Longe de nada, no centro do que poderá ser, se for,
Com os carros estacionados lá fora, o café a fazer companhia,
A banda sonora de um filme qualquer, que já gostei mais,
Só porque lá fora estava um dia cinzento e hoje até faz Sol,
Uma lucidez de quem dorme bem, de quem não perde a noção do que bebeu,
Nem bebeu, de alguém que já não tem o indicador amarelo,
Nem sente dor e nojo só de pensar no passado, porque foi
E foi o que tinha que ter sido e já cá não está, só um pêlo no café,
Que rapidamente se remove com um dedo rápido.
Tudo parece uma avalanche em câmara lenta, de onde se pode
Retirar momento a momento, o que valeu a pena:
Aquelas gargalhadas, as lágrimas inúteis, as mãos nas costas,
As unhas, os abraços de há muito tempo, os suspiros,
Os bocejos, os beijos, os meios beijos e os que quase, as rapidinhas apressadas na rua,
As esquecidas no carro, os jantares até o vinho acabar e depois mais vinho,
As conquistas dos bares e das discotecas, o nosso nome dito com alegria,
O nosso nome dito com ódio, com tristeza, com indiferença,
As saudades antes da partida, a despedida de semanas,
As cervejas à geada, os serões até abrir o primeiro café da terra,
As caminhadas no Sol quase quente das manhãs frias do regresso,
A lareira e o crepitar da amizade à sua volta, os beijos roubados,
Os beijos recusados, a braguilha que não se quis abrir,
As festas incontáveis, os litros incontáveis de fino, os cigarros partilhados
Nos momentos mais difíceis, afinal tão simples, tão necessários,
Os murros nas paredes sem culpa, os gritos a quem não merecia,
Os olhares perdidos no ar, os olhares que começam o fim, os que comem,
Os que matam, os que pedem desculpa quando o orgulho não permite palavras,
As viagens quase fugas pela noite bêbada, os quase acidentes, os acidentes e a sorte
De não ter sido um fim pior do que o que podia ter sido,
O desespero, a esperança, o esquecimento, as derrotas e as vitórias,
As mentiras, as mentiras das mentiras e as verdades nas mentiras,
A sinceridade, a frontalidade e a falta dela, as conversas paralelas,
As que passam atrás e não interessam, as realidades alternativas, a desilusão,
Os montes e o Sol que nasce atrás deles e esse sim interessa,
O Outeiro, uma amostra de Nirvana, a Galiza como uma fuga,
As fogueiras pela noite fora, as garrafas vazias que fizeram as manhãs longas,
Acordar só, acordar quase só, adormecer sempre em má companhia,
O Johnnie Walker a descer pelos paralelos em direcção à igreja e mais além,
Um cão que espera sempre, o Verão que dura pouco e custa a aquecer,
A vizinha querida e as birras de quarta classe, o arrependimento único,
Os jogos, os jogos a sério, o amor e as coisas a sério, os amigos verdadeiros
Nos maus momentos, os maus momentos a tornarem-se lições,
Ler poesia com cerveja no Verão, ler poesia com vodka e vinho do Porto no Inverno,
O rio a tornar-se impróprio para consumo, as silvas que não deixaram marca,
As noites como tantas outras que não se esqueceram tanto quanto se acreditava,
As corridas pelos montes, a liberdade de estar sozinho no meio de uma tempestade,
O tempo que se tinha e as mãos agora vazias, longe de nada,
No centro do que poderá ser, se for, o tempo tornado momentos,
Os momentos tornados recordações, as recordações a fazer de nós aquilo que somos.
18.02.2011
Turku
João Bosco da Silva
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