O Prazer Da Dor
Enquanto o saquê se instala e os pés descalços caminham pela neve,
As palavras surgem aos gritos do vazio de onde não havia nada.
A verdade é o frio, a noite que nos rasga com todas as surpresas,
Os sorrisos ébrios e as pernas que se abrem para nos receberem
Num inferno gelado, onde as músicas da nossa felicidade serão
Acompanhantes dos pesadelos mais vazios e dolorosos.
A luz é apenas mais uma testemunha do que jaz apagado
Nos sótãos encerrados por medos e mentiras e todos os actos e escolhas
Não passam de mais umas cordas que nos puxam a vontade,
Os desejos e nos afastam dos sonhos.
Correr nu e quente do corpo acabado de comer, correr juntos
De encontro à escuridão, em busca de nada, só frio e a nudez crua
Da vida depois da ejaculação livre na tatuagem da serpente de cabelos negros,
Longe das rosas, abraçando o verdadeiramente venenoso,
Porque não vale a pena correr riscos pequenos.
Não deixem cair o pouco que dou da louça do meu possível amor,
Não deixem … e já está no chão a ser muito lixo
E é esse lixo que te ama, esse lixo que me faz humano e não me deixa
Cair no cansaço eterno que há tantos anos me tem seduzido
Com a sua pureza redutora, como os passos que marcam a neve
Que irá derreter e dos passos nada.
Não faz mal, já não dói onde os animais não sentem
E os meu filhos serão as minhas palavras desprezadas,
Os meus sonhos incompletos, os meus amores desfeitos
E as mulheres onde entrei e de onde saí mais pequeno, cada vez menos
Até ao infinito, até ao fogo do fim dos tempos pelos meus olhos dentro,
Já que me obrigaram a fugir de tudo o que quis fazer valer a pena
E a vida assim pouco vale.
Tão longe do Nirvana quando não sinto o aroma que me obriga à erecção
E ao estupro contra um muro no meio de uma rua de uma terra qualquer,
Tão longe daquilo que dizem ter sido, tão fundo na caverna
Da minha falsa verdade por esta rua gelada fora, cheio de pouco meu,
Cheio de saquê e de uma solidão a que muitos chamam felicidade.
Turku
05.03.2011
João Bosco da Silva
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