A transcendência de π
Um mundo que morre é sempre um nascimento de um novo,
Doloroso, silencioso, já que o universo não suporta o vazio
E afinal sou todas as cartas de um baralho infinito com consciência
De um número, único e repetível pelas possibilidades quânticas.
Posso ser já um pedaço de matéria orgânica, pronto a ceder os meus
Átomos de carbono a outra forma qualquer de vida,
Posso nunca ter tido oportunidade de mostrar a cara, posso
Estar errado e certo e ambas as coisas até alguém provar o contrário
Ou estar de acordo com o facto de não existirem paradoxos.
Um mundo extingue-se, ou apenas muda de nome, acaba
Ou renova-se, eu e um espelho partido aos meus pés,
Reflectindo o peso de biliões de possibilidades, dando à fragilidade
Humana a responsabilidade de mil Atlas, confiando o trabalho de titãs
A vermes sensíveis, cheios de equações e deuses que expõem a sua ignorância.
Crio um multiverso a cada passo dado neste universo, com tantos passos
Possíveis que não dou e todos aqueles que dou e encerram ali algo mais
Para a minha definição enquanto indivíduo, quando sou uma raiz infernal
Em direcção ao impossível, para sempre, até que a eternidade congele,
Até o universo se cansar de fazer existir e desaparecer e se apague de vez,
Um por um, como as infinitas janelas de um prédio na noite eterna…
Mas se as janelas do prédio são infinitas, nunca se apagarão todas,
Haverá sempre luz e o fim estará sempre à mesma distância
E nunca chegará realmente, mesmo que os meus olhos se fechem,
Haverá sempre alguém que crie um universo, algo, alguém,
Alguém que resolva o problema da quadratura do círculo.
07.03.2011
Turku
João Bosco da Silva
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