Duygu
em Barcelona,
Nunca estivemos juntos em Paris, mas senti-te em todas as ruas,
Cada esquina trazia-me a possibilidade de um reencontro,
Tão longe do tempo das noites quentes de Junho
No berço do meu país em ruínas, quando já duvidava do orgulho
Que senti até perder o sentido, duvidava de quase tudo
Menos da suavidade da tua pele, do sabor dos teus cigarros,
Do teu perfume Lolita Lempicka, que ainda hoje sinto o cheiro
A crepúsculos em varandas com o Sol a pintar o céu de tons laranja
E rosados os teus lábios quentes, com a tua saia fresca
No meu colo de pernas abertas e sede, tu sede, eu sede
E a noite toda o nosso recreio sem ilusões.
Nunca me pediste o que eu não te podia dar e dei-te tudo,
Entreguei-me à tua fome, sem me questionar, sem resistir,
E os barcos que eram partes de filmes passavam por baixo
Das pontes do Sena, ambos longe dos países que fomos,
Amantes sem perguntas desnecessárias, pois ambos seremos
Para sempre do mundo e das mãos que nos souberem tocar.
Cada edifício tinha a tua assinatura, a forma do teu corpo,
A textura impossível da tua pele, ou pétalas de uma flor exótica,
Todos os teus lábios desesperantes, sabor ou vício insaciável,
Toda, tu, o teu cabelo ruivo que tornava o Sol quente
E trazia à cidade o aroma das manhãs de Junho às quatro da tarde,
Diluindo o alcatrão vaporizado até ser possível o Rio Douro.
Um dia serei cabelos brancos, pó e gente nova que julgará
Que sou um armário feio e velho, com olhos cegos no presente,
Mas dentro estarás tu a fazer nascer sorrisos secretos
Longe de Istambul, longe do presente, naquelas tardes de Sol
Que nos cobriam com a noite, para que ninguém notasse
Que o desejo é mais forte que o tempo e torna momentos
Que passam, em eternidades pulsantes na improbabilidade do infinito.
07.04.2011
Turku
João Bosco da Silva
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