domingo, 8 de maio de 2011


Mulheres


Não há muito mais do que aquela pele que brilha ao sol, enquanto a erva cresce debaixo,

Onde moram todos os sonhos sinceros, a única razão real e o verdadeiro desejo de morte

É um desejo de regressar, não propriamente à escuridão, mas à eternidade num momento

Húmido e quente, com outro coração, expirações contra o nosso corpo suado,

Enquanto o mundo envelhece, cansa, tomba as árvores como impérios,

Mas ainda há sombra, ainda há olhos azuis além daqueles óculos de sol

Que me sorriem, que sorriem com os lábios do mundo e dão sentido a esta parvoíce toda,

A esta falsidade de regras nunca escritas, quando a única regra é fazer pela vida

E isso só quer dizer uma coisa, com o rio a penetrar a cidade durante séculos

E antes da cidade a penetrar o que a suporta durante milénios, até ao momento

Em que estrelas ruivas, com uma chama a crescer da púbis, loiras e morenas

A explodir vontade, a violentar com desejo que nasce da sinceridade inocente

De uma erecção sem vergonha e uma resposta: claro que gosto de olhar para mulheres,

Não há nada mais bonito no mundo. São a razão disto tudo e aquelas pernas não

São só para serem bonitas e caminharem, aquele brilho, aquele excesso nunca suficiente,

São poemas e os poetas apenas tentam encontrar uma mulher perfeita na solidão.

As pontes não passam de uma forma de encontrar outra humidade,

Aproximar, nada de amor, cansa-me a palavra a exigência e a falsidade,

A excitação, o calor, o que não suporta palavras e apenas permite jorros quentes,

Gemidos e unhas a roubar pedaços de pele enquanto a alma se esquece

No catecismo esquecido de outros tempos e se é verdadeiramente humano.

Vestidos levados por bicicletas e um arco-íris de perfume doce que chama

Pelo nome original, adiados dedos perdidos em suspiros antes de se engolir o fim

Do mundo, a origem da tragédia, o pecado original, um golo de vinho tinto

E uma dentada na maçã vermelha antes do mamilo que nos aponta a língua

Como se a vontade fosse um poema por escrever a dois, a três, a quatro,

Porque até o infinito parece pequeno na primavera de todas as mulheres.



08.05.2011



Turku



João Bosco da Silva

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