Sem Coisas Profundas Também Sai Poema (desnecessário)
Lembras-te daquela noite no Carnaval, um baile de finalistas, um de muitos, do sofá ao fundo,
Lembras-te dos meus dedos na tua pele, da minha língua bêbeda com quatro ou cinco cervejas,
Do meu amigo no sofá em frente, agora casado, com a mesma, mas agora mulher e o que terá
Corrido mal para a resignação ter sido tão precoce, ou bem para… não me fodam!
O meu mestre comeu-a, as adolescentes são demasiado fáceis e é injusto e a vida morre-se
E não passa de uma adolescente e é injusto. Serei o único a levar as noites ao limite do estômago,
Ou serei o único que não leva a sério isto que é a brincar antes da eternidade, têm-me faltado
Pontos de interrogação, mas não é por falta de dúvidas, é mais por orgulho, falta de humildade
Nos dedos cansados de humidade e tenho dito tantas vezes não, que tornam as vitórias dos heróis
Pequenos em cervejas quentes e apressadas, como uma masturbação de uma semana sem carne fresca.
Meus filhos, eu conheci Ginsberg e nem Kerouac me disse nada acerca do que estou a fazer,
Por isso continuo, porque não há mais nada que seguir em frente, siga, que o abismo lá espera,
Hajam ratas e adolescentes idiotas e mães esfomeadas por um pedaço de carne e um sorriso,
Um elogio que lhes ressuscite a beleza (a juventude é contagiosa mas não dura na realidade),
Haja ilusão e amor e outras ilusões que se sentem mais que a dor, paixões, ejaculações porque:
Ai que me venho e o resto que se lixe e o resto depois a possibilidade de um universo, de mais uma morte,
Tenho tido colegas a engravidar, tenho afilhados, tento adiar a sorte, bebo com pressa, não venha
Algo sem a minha vontade bater-me à porta e dizer: lembras-te do joelho de Rimbaud
E eu respondo, haja sangue como Kerouac, mas dentro, sem chumbo, que o velho Hemingway
Devia ter esperado pela morte, mas quis ser mais fraco, ou forte, ou não sei, porque
Os meus amigos insistem em levar a mal as minhas quase tentativas: e eu com isso? Venham antes,
Não se armem em corvos, mas não me faz falta, a sério que não, hajam tios e copos para encher de vazios.
Lembras-te? Quase foste uma paixão de adolescente, quase que vivias para o meu sempre possível,
Quase que te fazia musa de demasiados poemas (maus), sempre maus quando escritos com “amor”,
Ou o caralho que isso for, mas lembras-te? As tuas nádegas duras nas minhas mãos esqueléticas,
O meu tesão (sei como te domar agora cabrão), quase a rebentar-me nas calças e uma bebedeira
De pouco mais do que quatro ou cinco cervejas. Dava o dia todo de hoje, a meter vida em veias,
A recordar conquistas que muitos invejam, só porque pensam que é muito melhor do que o que é realmente,
A recusar o convite para uma orgia (pronto, a três) numa cabana em Perniö, só porque o cansaço
E também a falta de bolsos para mais memórias desse tipo, e haja cerveja e uma
Descendente sueca à minha espera no bar irlandês: isto não é poesia? Então? Matem o gajo que só tem um poema.
Fartinho de o ouvir, lembras-te, afinal és grande nos pequenos, eu não chego a existir
Nem nesses, nem noutros, sou e chega-me (não, não falta nenhum ponto final)
20.07.2011
Turku
João Bosco da Silva
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