(Des)conselhos Sob Melancolia
para a minha irmã,
Abre as cortinas e deixa a chuva iluminar os momentos convergentes na carne sobrevivente,
Mantém a porta fechada e as mentiras preparadas e bem maquilhadas, já deves ter percebido
Que a gente não precisa de amor, mas sim de mentiras bonitas, ou oferecidas numa rua escura
Como uma prostituta velha que só se consegue vender na fragilidade dos candeeiros solitários,
Sorri para os olhos ocultos debaixo dos guarda-chuvas inúteis no vento e da pressa dos carros
Ao lado dos passeios estreitos, a igreja logo ali ao lado, a ser grande, para ser admirada,
Em direcção ao céu onde nem as andorinhas vivem, já longe onde moram todos os copos
Vazios, todos os sorrisos secos e encolhidos pelo vento quente do bater dos ponteiros
Contra o coração resignado à cadência de uma marcha inevitavelmente fúnebre, tudo corre
Como se a chuva pudesse lavar a gente da tinta com que se pintam, a tinta que os faz ser
Tudo menos aquilo que realmente são, portas trancadas, armários como museus de história
Natural, sofás cansados e abraços contraditos por um suspiro triste e o olhar fixo
Em quem não está, ficou naquele quarto de hotel e na promessa de uma vida que será
Para sempre paralela à que se mostra aos filhos, educa-se com mentiras, espera-se pela noite,
Pelo descampado longe da passagem de outros carros e contagia-se a inocência
Como se a salvação de cada um estivesse na condenação dos outros, aceitam melhor
Uma mentira que o amor incondicional, sorriem mais com o brilho de uma promessa de ouro
Do que com a vontade fertilizadora de uma ejaculação profunda, a sinceridade deixa-a
Com os cães, que também eles metem medo aos vizinhos e nunca, mas nunca
Saias de casa com a cara ainda coberta dos sonhos da noite anterior, ou serás chamado de
Louco, outro sinónimo para sonhador, agradece a quem aceitar o teu amor por dinheiro,
Poderá ser que te poupem o coração, o fígado e o cérebro espalhado numa parede cinzenta,
Aprende a esquecer e deixa a chuva levar tudo o que a luz não tocou, lava as mãos antes de
Ires dormir, não acordes com o cheiro dos seus interiores molhados nos dedos, ressaca
Não dói tanto como a solidão de uma companhia arrefecida, abre as cortinas e põe
A música no máximo, não ouças nenhuma das palavras que leres, ouve-te silenciosamente.
21.09.2011
Turku
João Bosco da Silva
This is so great. Truly, it is. I'm sure she'll love it. :)
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