quarta-feira, 21 de setembro de 2011


(Des)conselhos Sob Melancolia



para a minha irmã,



Abre as cortinas e deixa a chuva iluminar os momentos convergentes na carne sobrevivente,

Mantém a porta fechada e as mentiras preparadas e bem maquilhadas, já deves ter percebido

Que a gente não precisa de amor, mas sim de mentiras bonitas, ou oferecidas numa rua escura

Como uma prostituta velha que só se consegue vender na fragilidade dos candeeiros solitários,

Sorri para os olhos ocultos debaixo dos guarda-chuvas inúteis no vento e da pressa dos carros

Ao lado dos passeios estreitos, a igreja logo ali ao lado, a ser grande, para ser admirada,

Em direcção ao céu onde nem as andorinhas vivem, já longe onde moram todos os copos

Vazios, todos os sorrisos secos e encolhidos pelo vento quente do bater dos ponteiros

Contra o coração resignado à cadência de uma marcha inevitavelmente fúnebre, tudo corre

Como se a chuva pudesse lavar a gente da tinta com que se pintam, a tinta que os faz ser

Tudo menos aquilo que realmente são, portas trancadas, armários como museus de história

Natural, sofás cansados e abraços contraditos por um suspiro triste e o olhar fixo

Em quem não está, ficou naquele quarto de hotel e na promessa de uma vida que será

Para sempre paralela à que se mostra aos filhos, educa-se com mentiras, espera-se pela noite,

Pelo descampado longe da passagem de outros carros e contagia-se a inocência

Como se a salvação de cada um estivesse na condenação dos outros, aceitam melhor

Uma mentira que o amor incondicional, sorriem mais com o brilho de uma promessa de ouro

Do que com a vontade fertilizadora de uma ejaculação profunda, a sinceridade deixa-a

Com os cães, que também eles metem medo aos vizinhos e nunca, mas nunca

Saias de casa com a cara ainda coberta dos sonhos da noite anterior, ou serás chamado de

Louco, outro sinónimo para sonhador, agradece a quem aceitar o teu amor por dinheiro,

Poderá ser que te poupem o coração, o fígado e o cérebro espalhado numa parede cinzenta,

Aprende a esquecer e deixa a chuva levar tudo o que a luz não tocou, lava as mãos antes de

Ires dormir, não acordes com o cheiro dos seus interiores molhados nos dedos, ressaca

Não dói tanto como a solidão de uma companhia arrefecida, abre as cortinas e põe

A música no máximo, não ouças nenhuma das palavras que leres, ouve-te silenciosamente.



21.09.2011



Turku



João Bosco da Silva

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