Física Quântica Para Melancólicos
Tudo é muito pouco quando se tem a eternidade apenas possível na cegueira absoluta
E a melancolia não passa de algo líquido resultante dos sentidos que se tornam cães
Ao ouvir o Sol nascer, longe, numa recordação depois de uma noite de chuva,
Onde uma janela quase de água e de distância, quando era possível diluir os desejos
Nos sonhos de infância e o toque dos lábios era impossivelmente quente
Em olhos tão vazios, e a memória não é senão um punhado frouxo de palavras,
Que se deixaram cair por desprezo, porque não se sabia que é tudo o que se tem para
Guardar no desperdício dos nossos suspiros, a chuva não ouve, a janela grita e a lareira
Apagada não chama gatos, é a chuva que os empurra para dentro da casa vazia, não
A promessa do carinho, numa mão cansada sobre o vazio e a solidão de Novembro.
Perguntam se alguém se lembra da idade dos cemitérios, responde-se com flores
E velas e visitas que no fim se tornam anuais se houver vontade, que tem chovido
E os ossos dos vivos não aguentam certas humidades, anda meio mundo a tentar
Derreter outro meio e no fundo andamos cá por orgasmos em luares de mármore
E anjos que arrefecem da hipocrisia do dia que não passou, nós é que passamos,
Sem ninguém se aperceber que um segundo ontem era mais breve e dá pena que o apocalipse
Seja só para alguns, lá perto do fim dos tempos, quando a chuva ficar suspensa,
Um sorriso durará mais que um reflexo, o amor será tão eterno como impossível
E as gotas de água na janela, serão vidro inútil de uma casa que começará pelo telhado.
03.11.2011
Turku
João Bosco da Silva
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