Oração Do Ateu
Não se pode tolerar a morte nas noites de insónia, não no espírito acordado que olha para
As mãos calejadas de recordações, cicatrizes antigas a que alguns chamaram sonhos,
Cheiros alheios como desejos e se pergunta, isto tudo afinal para quê, e ela sorri e beija-te
Levemente, provoca-te um suicídio que lhe prometes todas as manhãs e adias todas as noites
Até à manhã seguinte, deixa em ti a semente da perdição e vives apaixonado pelo medo,
Acreditas no amor que a crente te promete, tu que tão cedo abraçaste a certeza da eternidade
Um vazio. Os cães ladram lá fora às sombras dos teus passos quânticos, há quem diga o que
Acredita, fantasmas, a brisa fria toca as folhas com o receio dos virgens, alguém vem de longe
Ou saiu tarde, ou parte, dois faróis apenas, na janela do quarto onde mora a insónia e a morte,
Onde se contam os pedaços de momento e se faz de um colar de missangas o rosário dos ateus.
15.11.2011
Turku
João Bosco da Silva
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