A Sombra Do Carvalho Para A Insónia
Antes de adormecer visita-me aquele carvalho centenário, numa aldeia galega cujo nome só
O gigantesco carvalho, quase se tem saudades da vida que nunca se teve, surge a sede
Ao vinho naquela taberna de outros tempos, hoje só portas trancadas e dois velhinhos
Sentados num banco de pedra ao seu lado, aproveitando o Sol que resta,
À espera dos melhores dias, o dia tornou-se verde-escuro, as unhas ainda têm a terra
Da manhã fresca e as mulheres, de lenço na cabeça, ripam couves nas hortas pequenas
Para o jantar, ouvem-se os chocalhos de algumas ovelhas que ainda ruminam ao ar,
Adivinha-se leite e queijo fresco daquelas mãos gretadas, os filhos estão longe,
Devem vir no Natal, os netos estão tão grandes, mas são da cidade, não demora em gear
E a lareira é uma companhia obrigatória ou a humidade nos ossos à noite, um desassossego.
Tudo isto conta o carvalho centenário, que tudo viveu, tudo guardou, mas os seus anéis
Contam os anos desde aquele inocente beijo até este Natal que vem com a nova geração,
Guardam a história da foice na perna do vizinho que andava a fornicar a filha do outro
No palheiro, à hora da sesta no verão, a do irmão que matou outro por causa das partilhas,
Antes inseparáveis, história universal e não se consegue dormir, quando a vida que nunca
Se teve, nos vem com promessas impossíveis, agora que a vida parece já ir a meio
E se vive tão longe daquela aldeia galega, onde a sombra do gigantesco carvalho
É apenas uma memória, ou a insónia numa cabeça que não consegue esquecer
Os passos que dá, mesmo que tenham sido só de passagem, em direcção a onde se vai ser.
O carvalho apesar de só raízes hoje, continua a acrescentar anéis e o tamanho
Não se mede pelos anos que se vive, mas pelos momentos que se levam para o sono.
23.11.2011
Turku
João Bosco da Silva
lindo
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