sábado, 7 de janeiro de 2012


As Cidades Da Inocência


Velho amigo, lembras-te das cidades que construímos sobre as fragas de granito,

Cobertas de musgo verde e banhadas pelo Sol eterno da nossa terra, cidades

De pedras que juntávamos, roubávamos dos muros de verdade, pequenas,

Das que não fazem a diferença, telhas partidas de casas que já não abrigavam

Ninguém, tábuas que não serão queimadas no Inverno e o Inverno nunca existiu,

Nunca existirá enquanto este Sol nos fizer as costas da mão pela testa que

Nos deixa uma coroa de terra, porque nós os reis, os deuses das cidades

Que erguemos com as nossas pequenas mãos e as nossas imaginações criadoras,

Capazes de passar tardes inteiras entre ruínas com um entusiasmo e uma felicidade

Que alimentavam o Sol e havia sempre algo novo, uma pedra com uma forma excelente

Para começar mais uma casa, minúscula onde se escondiam, por vezes, sapos,

Uma casa habitada por uma verdade maior que aquelas que acendem as primeiras

Lareiras e anunciam o fim da infância, das nossas cidades velho amigo,

Onde o tempo era o do relógio e a minha mãe a chamar-nos para lanchar,

Pão com queixo e marmelada numa barriga cheia de Sol, terra e verde,

A comida dos alquimistas que esqueceram o segredo da eterna juventude,

Os nossos joelhos manchados pelo musgo depois de passarmos tardes

A juntar astros com a força da inocência, construindo civilizações mais grandiosas

Que o auge de todas as extintas e acredita, ainda hoje naquelas fragas, se nos

Agacharmos, podemos sentir as nossas almas pequeninas do tamanho

De cidades eternas e impossíveis, universos feitos de sonhos dos quais acordamos.



06.01.2012



Turku



João Bosco da Silva

Sem comentários:

Enviar um comentário