As Cidades Da Inocência
Velho amigo, lembras-te das cidades que construímos sobre as fragas de granito,
Cobertas de musgo verde e banhadas pelo Sol eterno da nossa terra, cidades
De pedras que juntávamos, roubávamos dos muros de verdade, pequenas,
Das que não fazem a diferença, telhas partidas de casas que já não abrigavam
Ninguém, tábuas que não serão queimadas no Inverno e o Inverno nunca existiu,
Nunca existirá enquanto este Sol nos fizer as costas da mão pela testa que
Nos deixa uma coroa de terra, porque nós os reis, os deuses das cidades
Que erguemos com as nossas pequenas mãos e as nossas imaginações criadoras,
Capazes de passar tardes inteiras entre ruínas com um entusiasmo e uma felicidade
Que alimentavam o Sol e havia sempre algo novo, uma pedra com uma forma excelente
Para começar mais uma casa, minúscula onde se escondiam, por vezes, sapos,
Uma casa habitada por uma verdade maior que aquelas que acendem as primeiras
Lareiras e anunciam o fim da infância, das nossas cidades velho amigo,
Onde o tempo era o do relógio e a minha mãe a chamar-nos para lanchar,
Pão com queixo e marmelada numa barriga cheia de Sol, terra e verde,
A comida dos alquimistas que esqueceram o segredo da eterna juventude,
Os nossos joelhos manchados pelo musgo depois de passarmos tardes
A juntar astros com a força da inocência, construindo civilizações mais grandiosas
Que o auge de todas as extintas e acredita, ainda hoje naquelas fragas, se nos
Agacharmos, podemos sentir as nossas almas pequeninas do tamanho
De cidades eternas e impossíveis, universos feitos de sonhos dos quais acordamos.
06.01.2012
Turku
João Bosco da Silva
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