terça-feira, 7 de fevereiro de 2012
O Ritmo Da Insónia
Enquanto se espera que o sono venha fazer companhia ao cansaço, tentam-se afugentar
As recordações pesadas que asfixiam como uma avalanche e a consciência confusa não sabe
O que sentir. Apertando a cabeça contra a almofada como quem abraça o silêncio com o
Desespero dos condenados a uma eternidade de ecos moribundos, ouve-se o coaxar das rãs
Denunciando os amantes que se comem enquanto bebem o luar de uma noite de Verão,
Entretanto um javali tomba no sul atravessado por uma bala de carabina, o sangue é negro
Ao luar, a faca vai esculpindo a cortiça em forma de boi e os olhos do avô falam com o mesmo
Silêncio do céu, a força da cor de outras Primaveras, o Sol vermelho no fim de uma tarde
De canícula quando se esperava o autocarro para a vila, o vizinho bêbado paga-nos o
Assassínio de uma sede real, quando nem o dinheiro para uma pastilha elástica no bolso
E amanhã tem-se que acordar tão cedo e custa tanto renascer em mais um dia
Quando a insónia parece ser um sintoma do medo da morte. Vira-se mais uma página e todo
O peso do mundo muda de lado, ouvem-se os grãos de areia, pedras enormes, contra o vidro
Da ampulheta, mas é o sangue que se precipita nas têmporas em cabelos brancos e aumenta
O tamanho do ponteiro dos segundos, tornando-o num machado a fazer de pêndulo contra
A árvore da vida, as maças apodrecem à sombra e o primeiro beijo a estas horas tem o mesmo
Sabor debaixo das macieiras esquecidas, se ao menos a água parada daquele poço e o
Horizonte do fim da tarde de Junho, enquanto a vida verde e a língua ainda livre dos
Incêndios deliberados e se calhar é o que falta, um cigarro para ajudar a dormir, o tabaco
Enrolado neste poema em forma de insónia, queimando os lábios que tentam um gemido
Desesperado com mais uns versos, porque todos mais uns versos, cheios de vida morta,
Sonhos que dependem da sua impossibilidade futura, uma melancolia sem pais, fruto da
Escuridão quente contra as têmporas que o gelo do tempo cobre, ridícula e
Uma insónia que se tenta despistar nela mesma, entre lençóis, circunvoluções e papel.
07.02.2012
Turku
João Bosco da Silva
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