quinta-feira, 8 de março de 2012


Onde Estavas Tu Lolita


Que diria o Nabokov, pergunta-me as suas pupilas implorantes, à procura de não sei
Que abismo, dos que me habitam e transpiro, foi num verão, daqueles secos,
Pelas tardes fora, ressacas inúteis das noites onde se enterrou a inocência
E tu onde estavas quando a minha fome era um animal a querer ser imortal
Sem acreditar na morte, pergunto-te eu, enquanto me puxas a mão contra o teu
Peito, mas nem do lado esquerdo e com um sorriso faço-te acreditar que me necessitas
Dentro de ti, prometes-me Crime e Castigo, mas eu enterrei deus há muito tempo
E a moral queimei-a nas noites frias do tédio das casas vazias onde ecoam rumores
De orgasmos fingidos e azeda o esperma da solidão enganada com olhares
De pupilas implorantes, por uma foda, uma fuga à vida, a salvação pela decadência,
O alívio pelo contágio, a purificação pela humilhação consentida. Nunca me levarás contigo,
Pingo de ti antes do meu nome só, a tua pele uma provocação nos meus dedos de água benta,
Eu quase deus, cada vez mais deus com a eternidade a espreitar por entre
Os teus fios de cabelo, um quase morto, cansado do futuro que o passado
Reflecte, revoltado pelos traídos que fiz trair nos bancos traseiros dos próprios carros,
O meu cu nu nos seus estimados estofos, numa pressa de cabine de barco,
A mesma febre extraordinariamente ordinária da machada de Raskolnikov.
Onde estavas tu, quando eu o miúdo pálido vindo de todas as terras
Pequenas, onde estavas tu quando fechava os olhos e me masturbava no quarto
Quente e húmido, onde se acumulavam livros que engolia como se eu fosse tu
Enquanto me engoles, a mesma busca, mas eu nem uma palavra a não ser cabelos brancos,
Eu nem mais um acto, deixei de poder representar pois perdi o suporte das máscaras,
E tu perguntas-me, o que diria Nabokov, quando eu nem conheço a tua mãe e
Tu só jovem porque eu enrugado dos pecados com que me vestiram os anos,
Dostoievsky a estas horas anda de cupido nos rublos que pagam fodas à beira Neva,
E tu tão longe da lareira enquanto a machada comprava o bilhete para a Sibéria,
Escala na loucura, quando o que queria mesmo era abrir-te com a mesma curiosidade
Se tu me perguntasses, o que faria Florentino Ariza enquanto o amor da sua vida envelhece,
Fodia-te, toda a tua carne a derreter à minha volta, um desperdício em pão duro,
Mas a culpa não é da tua frescura, é da minha anorexia, o mundo fartou-me de mim
E não posso com mais um nome, cospe-me e volta para a tua última tatuagem,
Eu estou a pensar em reler os que me acompanharam, quando tu não estavas.

08.03.2012

Turku

João Bosco da Silv
a

Sem comentários:

Enviar um comentário