Dissecação Das Ruínas Interiores Da Saudade
Tenho essencialmente saudades do império que nunca conheci, os anos pouco trazem
E levam sempre mais do que as misérias que nos oferecem, cabelos brancos,
Sorrisos cada vez mais difíceis, lágrimas secas que pingam como se palavras
Contra o papel cansado de uma máquina de escrever, tanta pressa de viver,
Esquecidos de que a vida só uma, batida apressadamente, dedos cegos
De quem nasceu cansado e vencido, a quem fizeram acreditar que se pode
Conquistar o mundo para depois lhe amputarem todos os sonhos, despejados
Nos fortes de uma civilização esquecida, uma língua prostituída e os olhos
Fascinados pela distância do horizonte e pelo tamanho ridículo das mãos,
Isto capaz de quase tudo e quase tudo pouco mais que nada, as unhas crescem,
A Lua que se ignora até a noite, apenas escuridão e quartos vazios, cheios de fantasmas
De outros tempos, dizem que são o que somos e parecem ter razão,
Nós cemitérios de melhores tempos, bebe-se na esperança de uma indiferença
Que facilite o passar das horas, quando as horas parecem valer cada vez menos,
Ser cada vez mais curtas e os segundos antes de frescura fluida, um magma
Que não trará fertilidade alguma à terra, só as lápides aumentam a sombra nas cidades
E à noite as velas tremem enquanto as mãos empurram uma mão de resignação
Pela goela abaixo, miligramas a fazer de conta que lágrimas, gritos, um pedido,
Ajuda-me que não consigo viver comigo mesmo, a vida tão isto que eu nunca fui
Ensinado a levar, abusa-se do medo e do horror, joga-se com a loucura em doses
Temporárias, já não se tem medo dos holandeses nas praias, o império umas páginas
De história escritas noutra língua, as pedras da cor da terra não se lembram
Das vidas que lutaram contra o esquecimento de quem pega na canela
Em cidades cinzentas, estéreis, onde o crepúsculo lembra que também o Sol
Um dia nos abandonará a carne, e tudo ossos e roupa pendurada ao vento,
Velas desempregadas dos navegadores de si mesmos, viciados na saudade.
29.02.2012
Turku
João Bosco da Silva
Tenho essencialmente saudades do império que nunca conheci, os anos pouco trazem
E levam sempre mais do que as misérias que nos oferecem, cabelos brancos,
Sorrisos cada vez mais difíceis, lágrimas secas que pingam como se palavras
Contra o papel cansado de uma máquina de escrever, tanta pressa de viver,
Esquecidos de que a vida só uma, batida apressadamente, dedos cegos
De quem nasceu cansado e vencido, a quem fizeram acreditar que se pode
Conquistar o mundo para depois lhe amputarem todos os sonhos, despejados
Nos fortes de uma civilização esquecida, uma língua prostituída e os olhos
Fascinados pela distância do horizonte e pelo tamanho ridículo das mãos,
Isto capaz de quase tudo e quase tudo pouco mais que nada, as unhas crescem,
A Lua que se ignora até a noite, apenas escuridão e quartos vazios, cheios de fantasmas
De outros tempos, dizem que são o que somos e parecem ter razão,
Nós cemitérios de melhores tempos, bebe-se na esperança de uma indiferença
Que facilite o passar das horas, quando as horas parecem valer cada vez menos,
Ser cada vez mais curtas e os segundos antes de frescura fluida, um magma
Que não trará fertilidade alguma à terra, só as lápides aumentam a sombra nas cidades
E à noite as velas tremem enquanto as mãos empurram uma mão de resignação
Pela goela abaixo, miligramas a fazer de conta que lágrimas, gritos, um pedido,
Ajuda-me que não consigo viver comigo mesmo, a vida tão isto que eu nunca fui
Ensinado a levar, abusa-se do medo e do horror, joga-se com a loucura em doses
Temporárias, já não se tem medo dos holandeses nas praias, o império umas páginas
De história escritas noutra língua, as pedras da cor da terra não se lembram
Das vidas que lutaram contra o esquecimento de quem pega na canela
Em cidades cinzentas, estéreis, onde o crepúsculo lembra que também o Sol
Um dia nos abandonará a carne, e tudo ossos e roupa pendurada ao vento,
Velas desempregadas dos navegadores de si mesmos, viciados na saudade.
29.02.2012
Turku
João Bosco da Silva
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