Catholic Boy
“And now for
once, you must try to face the facts. Mankind is kept alive by bestial acts.”
William S.
Borroughs
Ela era a
menina mais bonita da sua terra, católica devota, como tem que ser
As meninas
bonitas da terra, ia sempre à missa e ajudava o padre em tudo
No que o seu
corpinho pequeno podia ajudar, de paramento entre os fumos do incenso
E das velas,
pedidos mudos, ridículos, que a vizinha me faça um broche no palheiro,
Que o
padeiro finalmente me entre no pão, sorte na caça, a vitória da minha equipa,
O totoloto,
tantos a pedir o mesmo que parece que deus opta por ignorá-los a todos
E ela a
sorrir enquanto as velhas abrem a boca desdentada com hálito a morte
Para deus,
famintas de um corpo qualquer, que seja o de deus, ela a sorrir quando
Recolhe as
moedinhas para os vinhos caros do padre, como ela amava deus.
Gostava
tanto do criador que também queria ser também, mas infelizmente ela católica,
Mudou-se
então para a cidade, fingindo seguir os sonhos dos outros, mas secretamente
Não tinha desistido
do seu sonho e prostituía-se depois das aulas, rezava pela madrugada
E sonhava
com velhos obscenos a ejacular na sua palidez imaculada, acordava com o sabor
Do esperma
cansado dos homens casados e continuava a fingir uma outra vida, até o dinheiro
Ser suficiente
para mudar isto e aquilo, o nome, o país, em nome de deus, do seu sonho.
Chegou o
dia, o início do processo de transformação, a metamorfose e só sentiria
saudades
Das mamas
que a faziam ser tão desejada e amada, dádiva de deus, tantas vezes
Com um colar
de pérolas derretido, também teria que se deixar de joias, os seus clientes
Sentiriam a
sua falta, mas ela iria salvar-lhes a alma, lá desde o outro lado do oceano,
Facas e
hormonas a corrigir o único erro, erro não, vá, descuido do seu amado até que
por fim,
Um homem, um
novo nome, uma nova vida, o sonho tornado possível e depois salvar almas.
Numa missão
de missionário passou pela Tailândia, onde inesperadamente se apaixonou por
Um(a)
ladyboy, demasiado álcool sempre ajudou a aproximar-nos de deus, o seu sangue
A tornar o
nosso mais quente, e num quarto barato onde se ouviam os gemidos dos quartos
Vizinhos e
néons a tornar o ar psicadélico, finalmente entrou em alguém, finalmente se
sentiu
Dentro e o
coração batia-lhe como nunca antes, bateu-lhe mais quando sentiu o sumo quente
Explodir-lhe
nas entranhas e aí percebeu que o pecado é o que faz bater o coração,
O pecado é a
razão da vida, é o que alimenta a vida, deixou deus e as hormonas e tornou-se
Também num(a)
ladyboy e juntamente com o seu amor, espalharam pecado, vida, naquela
Cidade deste
mundo esquecido por deus. Esta é a história da menina mais bonita da terra.
18.05.2012
Turku
João Bosco
da Silva
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