No Comboio
Uma sande de
pão com queijo e uma cerveja, quase dez euros, no vagão-restaurante
Do comboio,
o meu avô com uma barriga enorme, amarelíssimo, deitado num sofá velho,
Anda cá, não
tenhas medo, tens-me nojo, e eu só pena, vais-me morrer, anda cá, olha uma
nota,
Azul de dois
contos, uma cerveja e pão com queijo no vagão-restaurante do comboio,
Enquanto um
hippie, desses que serão velhos mortos quando os sessenta regressarem,
Toca viola e
canta uma merda qualquer que faz a cerveja saber a demasiado algo que
Não o seu
sabor familiar, a pena é amarela e às vezes tenta-se beber, uma velha predadora
Assume o seu
papel de bêbada, mas não há paciência, não a conheço, não a quero conhecer,
Desculpe, já
negligencio demasiadas pessoas na minha vida, não preciso de si, deixe-me estar
só,
Só estar, no
sofá do meu avô, com uma pena maior do que o meu tamanho nas roupas
Que herdei
de algum amigo da família com filhos mais velhos, um primo, a pena a encher
Os dois
números acima, o cabelo amarelo de uma adolescente fascinada por trinta e tais
anos,
Fala alto,
acaba rápido a cerveja, com pressa, é gorda e desesperada por alguém dentro,
tenho
Que ir
mijar, para o restaurante-vagão, todos a rezar em cima de uma cerveja, a orar à
solidão,
Anda, sabe
melhor se vieres e lá vão, ele atrás, uma ejaculação no chão da casa de banho
do comboio,
A cerveja desce
e é como a vida, à minha volta estes corpos celestes, enquanto me consumo
Em direcção
a uma dispersão absoluta, dois contos, anda cá, não me tenhas nojo e o punho
Cheio de
terra abre-se e o som vazio contra o caixão fechado diz-te adeus, onde tu sem
estares estavas,
Eu a chorar,
a mão vazia cheia de pena, eu todo medo, nojo, e nem perto de Las Vegas.
Turku-Savonlinna
07.07.2012
João Bosco
da Silva
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