Eucaliptos
Em Earls Court E Outras Sublimações Desnecessárias
Espero que
venha, mas são sempre as mesmas palavras quando chegam, as imagens limitadas
Que se foram
acumulando na originalidade vazia, lá fundo cheira a eucaliptos e a fronteira,
Entre um ser
e um ter, vai-se perdendo um verbo pelo outro e quanto mais se tem menos se é,
Mais longe
se está dos Verões de estradas infinitas rasgando montes e linhas que só nos
mapas,
Já não se
tenta, espera-se, não se força, deixa-se vir, quando a vontade desistir, quando
a
Resistência ceder
ao peso do lixo dos dias, sacode-se aquele pequeno-almoço tardio
Em Earls
Court à espera do fim de uma solidão maior, como se sacudiram as palavras
Que hoje
parecem sintomas de uma cerveja demasiado cedo, ainda tenho a minha cara
Dos teus
olhos pelos teus dedos dentro daquele livro do Bukowski e aquele momento
Que hoje tão
morto, tão gasto, na estação de São Bento, sei que te lembras, mas não sentimos
Mais,
choraste nesse dia de Sol, como choraste na manhã de insónia em que me contaste
Que te
tinham entrado e as palavras a tornarem-se em unhas, a apertar algo cá dentro,
No fundo um
nervo chato apenas, ácido clorídrico a mais, espero que venha e que lave isto
tudo,
Já não sei
esperar, esperar exige esperança, limito-me a engolir o desespero e a certeza
Da perdição,
um fim é um fim, um pouco de sujidade de unhas talvez, que se guarda como
Uma relíquia,
mesmo tendo sido amargo muitas vezes, deixa-se cair uma chuva ao contrário,
Como se o
céu em sintonia com a cadência dos dedos, a dor dos hemisférios, os gritos
Harmoniosos que
se desfazem em ecos pelos montes, onde vinhas esquecidas,
Saudosas de
tempos melhores, porque passados e nunca se viveu tão bem vivendo-se tão mal,
Fecham-se os
olhos, não merecem o abuso que a solidão lhes obriga e procuram o aroma
Dos
eucaliptos e da fronteira, fluída, fria, um salto de criança ao alcance da
inocência ingénua.
17.02.2013
Turku
João Bosco
da Silva
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