Carta A Um Maldito Na Eternidade
“No, It´s not fair, but
one man´s god is another man´s devil”
Chuck Palahniuk
Escrevo-te do galinheiro, ou se preferires, do inferno, só
tenho Sol e uma cerveja como companhia
E ele já se põe, nas minhas costas, só o cansaço e o pó de
todos os anos, desde os mais primitivos
Até esta actualidade onde me desfaço num ritmo sinusal, só
para ficar bonito e facilitar interpretações,
Sabes que aparento pele de cidade quando estou calado, mas
quando começo a abrir entradas e saídas,
Tirando os olhos, que esses são de outros infernos,
revelo-me um verdadeiro javali alimentado com
Raízes de urze, granito e a carne da fome e por isto peço-te
desculpa, também há rosas e as hóstias
Parecem sair nos pacotes de batatas fritas, por isso também
aí falho e nada do que li me tornou mais,
Tudo me encolheu a um canto da minha alma vazia, que também
não me pertence, vou pagando
A renda como posso, com fodas e outras limpezas cá na terra,
juro-te que está tudo bem, às vezes
Há ovos, mas só para matar a fome imediata da manhã, o dia,
vai-se durando encostado às sombras,
Até elas têm fugido, sabes, ao menos a mão já não me dói e a
pele tornou-se um contraste da infância,
Também tu querias escurecer na eternidade, tornaste-te deus
maldito e deixaste-te ser levado pela
Areia e outras amputações por correspondência, talvez a
minha irmã me salve como a tua em chamas,
Enquanto lhe lias aquilo que escrevias e que queria dizer
tudo o que estava lá escrito, espero que
Não te doa o vazio e tenho pena que o corpo te tenha
abandonado, aqui há outros desertos, à noite
Lembram-me a tua cidade cinzenta que prateada quando chove,
despeço-me com todo o mar
Que desejares e mais olhos para ver além do além, ó anjo
maldito de asas de papel.
Torre de Dona Chama
12.06.2013
João Bosco da Silva
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