Purga
A caminho de Rantasalmi onde me espera um gelado no fim da
tarde, uma traição
Com a amante de cavalos e um susto de filha que muitas vezes
suspiro por quase
E não ser, o gelado derrete para os dedos, os bêbados
começam a estar, podia-se
Beber uma cerveja, mas lê-se um pouco mais de Antunes
enquanto se espera que
O talento venha, isto não passa de uma preparação para, para
na verdade, nada,
Acabou o tempo a caminho de Rantasalmi, a minha mãe já dorme
mais descansada,
Porque apesar de eu nunca tão distante, sabe-me perto, longe
dos russos e do
Perigo além fronteiras, quando é cá, que mais me temo e
menos me sou, perduro,
Sem ter aprendido este sacrifício de Sol, esta expiação de
pecados inventados
À luz da lareira, estes modos de ser educado com uma alma
bruta e pequena,
A caminho do útero mais quente, onde me purgo de todos os
pecados por omissão,
Por pecar, e o desperdício de vida que acarreta esse ficar
por pecar, engulo o vinho
Da eucaristia luterana, sangrada sabe-se lá a que distância,
as searas prepara-se
Para as grandes máquinas e no Sul sua-se um suor barato e
criam-se uns calos
Que ninguém vê como necessários, cultiva-se o culto ao
sacrifício desregrado
E inútil, buscam uma tristeza feliz no pingo de cera que
dói, mas que de um santo
Qualquer, uma cona ejaculadora lava melhor os pecados,
especialmente se
É de nenhuma santa, de uma mulher real, mesmo que sem nome,
dança-se
Na escuridão a medo dos olhos, tem-se tanto medo dos olhos,
e da língua dos olhos
Nesta terra de cobras, a caminho de Rantasalmi, sentado numa
recordação sentado,
Com o fascínio que se ignorava de uma ruiva pálida que
acreditava que o diabo
A dormir num banco de autocarro, o diabo que ela queria ter
dentro e engolir
E sentir até doer, no adro da igreja de Savonlinna, enquanto
a madrugada se desfaz
Em cigarros e promessas em forma de despedida e nunca mais,
regressarei, a mim.
18.09.2013
Coimbra
João Bosco da Silva
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