Visita A Koroisten Piispankirkko Com Tranströmer E Carpelan
“The heart does not
accord
with its bounds,
nor the poem with
reality,
nor reality with God´s
dream.”
Bo Carpelan
Ao ler Gläntan de
Tomas Tranströmer lembro-me de Koroisten Piispankirkko à beira
Aura, a erva também milagrosamente viçosa, uma cruz branca a
anunciar que o agora
Nu, em ruínas, uma mandíbula desdentada, antes um templo,
rodeado por mais uns amontoados
Pálidos de pedras, incrustadas no solo verdejante de uma
Primavera explosiva,
Antes a capela do bispo, emuralhada por uma paliçada absorvida
pelos anos, com torres para o rio,
Reduzidas à estranha sensação de nostalgia que as ruínas
evocam, já não saltitam por lá galinhas
À espera da faca no pescoço, só crianças pequenas acompanhadas
pelos jovens pais,
Casalinhos sentados nos bancos com as bicicletas à espera de
outras distâncias que não
As do tempo, todos parecem ignorar a informação em finlandês
e sueco, o resto adivinha-se,
Uma casa de deus, onde parece que também eu já estive, de
alguma forma, além das vozes
Que ouço, da língua que reconheço e compreendo, parece-me
ouvir outra que reconheço,
Mas não compreendo, a língua de Tranströmer ou melhor de Bo
Carpelan, que conheci uma vez
Numa revista e melhor conheci a sobrinha-neta, que diz que
pouco se relacionou com ele
E eu ainda conservo dele a necrologia de um recorte de
jornal, o mesmo sinto quando a encontro
Por acaso, dentro de um livro, o mesmo que sinto ao pisar os
alicerces da Piispankirkko,
Muito diferente do que sinto ao tentar traduzir um poema
meu, numa noite de bebedeira nórdica
À sobrinha-neta do Bo Carpelan, que só pensava em tê-lo
dentro, e continha-se pelo
Interesse da amiga e o seu fascínio pela minha roupa
interior a secar na cozinha,
Onde estará o tal bispo a estas horas a secar a sua roupa
interior, “só os arquivos é que envelhecem”,
Mas também só o corpo que arquiva tudo envelhece e ao
contrário do suporte dos arquivos,
Morre ao mesmo tempo de quem o registou, só ficarão os
fantasmas projectados em amontoados
De pedras, num alto, à beira de um rio antes sueco, sempre
humano, tanto meu como
Tudo o que um dia levarei comigo, toda aquela água em
direcção ao Báltico, em direcção
Ao esquecimento, ao desaparecimento de tudo, menos das
pedras-alicerces.
“Não procures na erva muda, procura a erva muda.” Bo
Carpelan
19.09.2013
Coimbra
João Bosco da Silva
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