quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Visita A Koroisten Piispankirkko Com Tranströmer E Carpelan

“The heart does not accord
with its bounds,
nor the poem with reality,
nor reality with God´s dream.”
Bo Carpelan

Ao ler  Gläntan de Tomas Tranströmer lembro-me de Koroisten Piispankirkko à beira
Aura, a erva também milagrosamente viçosa, uma cruz branca a anunciar que o agora
Nu, em ruínas, uma mandíbula desdentada, antes um templo, rodeado por mais uns amontoados
Pálidos de pedras, incrustadas no solo verdejante de uma Primavera explosiva,
Antes a capela do bispo, emuralhada por uma paliçada absorvida pelos anos, com torres para o rio,
Reduzidas à estranha sensação de nostalgia que as ruínas evocam, já não saltitam por lá galinhas
À espera da faca no pescoço, só crianças pequenas acompanhadas pelos jovens pais,
Casalinhos sentados nos bancos com as bicicletas à espera de outras distâncias que não
As do tempo, todos parecem ignorar a informação em finlandês e sueco, o resto adivinha-se,
Uma casa de deus, onde parece que também eu já estive, de alguma forma, além das vozes
Que ouço, da língua que reconheço e compreendo, parece-me ouvir outra que reconheço,
Mas não compreendo, a língua de Tranströmer ou melhor de Bo Carpelan, que conheci uma vez
Numa revista e melhor conheci a sobrinha-neta, que diz que pouco se relacionou com ele
E eu ainda conservo dele a necrologia de um recorte de jornal, o mesmo sinto quando a encontro
Por acaso, dentro de um livro, o mesmo que sinto ao pisar os alicerces da Piispankirkko,
Muito diferente do que sinto ao tentar traduzir um poema meu, numa noite de bebedeira nórdica
À sobrinha-neta do Bo Carpelan, que só pensava em tê-lo dentro, e continha-se pelo
Interesse da amiga e o seu fascínio pela minha roupa interior a secar na cozinha,
Onde estará o tal bispo a estas horas a secar a sua roupa interior, “só os arquivos é que envelhecem”,
Mas também só o corpo que arquiva tudo envelhece e ao contrário do suporte dos arquivos,
Morre ao mesmo tempo de quem o registou, só ficarão os fantasmas projectados em amontoados
De pedras, num alto, à beira de um rio antes sueco, sempre humano, tanto meu como
Tudo o que um dia levarei comigo, toda aquela água em direcção ao Báltico, em direcção
Ao esquecimento, ao desaparecimento de tudo, menos das pedras-alicerces.

“Não procures na erva muda, procura a erva muda.” Bo Carpelan

19.09.2013

Coimbra


João Bosco da Silva

Sem comentários:

Enviar um comentário