Satori No Aeroporto
Bebi duas cervejas em menos de vinte minutos, em jejum,
espero o embarque,
Bebi porque estava atormentado pela carne e pela
possibilidade, sempre,
De festins nas casas de banho, afogado em olhares, lembro-me
de Céline,
E espero, tento escrever algo, mas a caneta também não tem
coragem, falta a tinta,
Escoa-se com os anos, dizem que ainda têm que limpar o
avião, vinha de Hong Kong,
A violência dos beijos russos ao lado, a promessa de garotos
na lata de sardinhas civilizadas,
Céline, que sossego deve ser a morte, sem os sorrisos
estúpidos de quem está só,
E pede caralho, cu, ou cona, sem o bafo pestilento de quem
insiste em gorgolejar
Um idioma frio, sem fome e sem vontade, tornaste-te num
mestre zen e essa sim,
Foi uma viagem, era capaz de morder alguém, dar-me corpo e
mais olhos, mas não,
Levanto-me fodido com a caneta, ela o mundo todo, vou à casa
de banho,
Retraio o prepúcio ao máximo e mijo, mijo contra um pedaço
de merda agarrado
À sanita, mijo contra o mundo, até a sanita ficar limpa, por
fim, algo imaculado.
Helsinki
07/08/2014
João Bosco da Silva
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