como te percebo Sebastião,
Deixa lá, ao menos estiveste bem para ti, já foste
demasiadas vezes
Nos outros e agora, nem um contágio de ti neles, deixa-te
morrer para o mundo,
Mesmo enquanto te olhas no espelho, não te merece, mantem-te
nesse teu
Universo, dorme muito, sonha mais, o resto é ruído e fome e
medo e carne,
Não dês mais oportunidades a comparações, és irrepetível,
até o padrão
Estrela do teu cu é único, querem é foder-te com os olhos e
fingir-te invisível,
Não te dês mais, escreve sobre os tempos em que eras capaz
de te interessar
Pela podridão e davas dentadas em maçãs demasiado maduras
para a época,
Deixa lá, a cama é o teu trono, os teus dedos a tua memória
mais fiel,
O copo o teu melhor amigo, mesmo que te mate aos poucos,
Também a vida sem copo te mata aos poucos, sonha, acorda
tarde se puderes,
Pode ser que lá encontres os teus amigos, te encontres a ti,
a caminho da escola,
E possas roubar umas uvas ou uma sombra ao lado de um
silvado,
Morreste há tanto tempo que nem deste conta que agora,
Estás só a apodrecer, nada em ti resta além da saudade e
Agosto ainda tarda
E não é mais o mesmo, podias muito bem ser os ossos do teu
cão morto,
O caixão do familiar que nunca encontraram, mas ainda
incomodas,
Ainda invertes o copo cheio e tornas a página vazia numa
circunvolução
Enquanto a consomes no esquecimento, em cuecas, porque nada
mais.
01.01.2015
Turku
João Bosco da Silva
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