Que será da cidade agora que todos se foram, agora que só as recordações
A definem, inseguras, seremos um delírio, em que vida, terás sido tu,
E o rio também na dúvida, já nos tínhamos visto antes, uma ruiva contigo,
Agora não, as janelas fechadas escondem um mundo que aos poucos
Se volta a desconstruir, os bares agora sem palavras, só ruído e a solidão,
A certeza de estares longe do tempo, também um dia deixarás de te pertencer,
A cidade agora é dos que acabam de chegar, dos que ainda têm as malas
Por desfazer com a roupa lavada no fim de semana, a cidade é dos pombos
E dos que os alimentam com cada dia do ano, gastando calçadas,
Gastando quem não ficou e estendendo a mão como se a primeira vez,
Quando tantas vezes à hora do almoço, ou ao fim da tarde antes
Do refúgio de paredes finas a bater nas teclas com força para
Que soubessem que ali alguém, a ser esquecido noutros lugares,
Em qualquer lugar, quando se está só, está-se sempre longe,
Não há dedos suficientes para tapar tanto buraco e não se pode
Ser para sempre em ninguém, só a cidade é eterna, mesmo que
Troque de carne como quem troca de pele, resta a memória, insegura,
Terá sido com ela, ou já teria passado o deslumbramento, as paredes
Não respondem, nunca respondem, e a cidade cresce com o vazio
Que deixa, agora que todos se foram, agora que tu te foste,
Mesmo que julgues cruzar-te contigo mesmo, nas ruas que já te esqueceram.
30.01.2015
Turku
João Bosco da Silva
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