Air Strip
Já ninguém me espera com toalhas frescas e um refresco depois
de quilómetros de pó
Dentro da virgindade próxima, ninguém me respeita o silêncio
da caneta a sujar o papel
Com pecados que fermentaram em versos, nem uma aranha
desconhecida a tornar
O papel higiénico um luxo necessário embalado por um milhão
de diamantes e
Elefantes curiosos inocentes do medo a que a escuridão
obriga, no bolso do casaco
Um postal em branco com uma morada, mas como dizer a um
amigo que nos conheceu
O brilho da loucura nos olhos, que a terra já não incomoda
mais e que o nome estará
Enquanto ele quiser nas suas saudades, se tanto, ele tão
orgulhoso do meu requerimento
Para ser poeta, quando tinha dezasseis anos era sem ter
pedido reconhecimento de ninguém,
Lé terei que depilar o cu e perder o nojo na língua, admiro
a indiferença das hienas e dos leões
Saciados, tenho mais medo dos hipopótamos, sempre enfiados
com os cornos na água,
Sim cornos, entre amigos, todos territoriais, mas é o medo
das manchas de um leopardo
Que se esconde antes de focarem os canhões, sem desculpas,
que está frio
E não estava preparado, eu atravesso pedantes em cima de um
tractor com quilos de merda
Fundida pronta a sair-me dos poros, temos que aguentar a
própria vida, mais nada,
Cada um que engula os seus dias como quiser, que trate da
digestão como dos amigos
Se quiser, o pó não pára de se fazer quilos nos quilómetros e
a toalha seca, áspera, ao lado
De um copo de água-ardente numa manhã de ressaca de vinho
tinto em Agosto,
Longe das andorinhas em Fevereiro, antes da despedida da
lareira solitária,
Das pinhas que nunca se queimaram, das noites de ausência e
cemitérios cada vez mais apertados.
Gdansk
04.05.2015
João Bosco da Silva
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