Adeus Amigo
ao senhor Tomé,
Que posso eu fazer agora que o teu corpo já arrefece da
partida,
Os teus olhos tratavam a morte por tu, sei que não te
assustou quando chegou,
Desculpa a minha memória, tentarei guardar todas as
histórias que me contaste
Da guerra, sei que muito de ti ficou por lá, ao lado dos
teus amigos caídos,
Finalmente a paz absoluta, já não tens que ter medo das
emboscadas,
Já não tens que caminhar descalço pelas ruas geadas, com os
pés pequeninos,
Já não tens que te lembrar da fome e da miséria daqueles
tempos de ditadura
Na região esquecida do império por que lutaste, agora são os
meus miolos que ardem
Com a pólvora de uma granada, o hálito sabe-me a enxofre,
metal,
E deito-me na cama armadilhada, nem quero saber, bebemos
mais uma das verdes,
Que sempre tinhas em casa porque pensavas que eu gostava
mais delas,
E as francesas, nunca se esquecerão do teu sorriso malandro,
tu da minha idade,
Dizias e eu já com 30 anos, fazias-me sentir um garoto
sempre, fazias-me sentir
Que ainda havia tempo, que ainda estava a tempo, e com a tua
tosse por perto
Não me lembro de haver sequer um segundo em que me sentisse
triste,
Não sei como pode falhar o coração a quem o coração nunca
falhou,
E agora, que posso eu fazer a não ser encontrar-te em cada
pedaço de madeira,
Em cada cigarro que fume e que se lixe, vamos todos, em cada
copo de vinho
Para empurrar o presunto, que tu preferias grosso, em cada
rapariga nova
Quando o meu cabelo for todo branco, e eu da tua idade a
tornar os outros jovens
Mais uns anos, eu da tua idade, eu da tua idade, agora serás
sempre da tua idade,
E não te preocupes, levar-te-ei comigo enquanto cá andar,
meu velho amigo.
Palavras . . . queria era beber um copo de vinho contigo, só mais
um.
20.04.2016
Turku
João Bosco da Silva
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