sábado, 1 de outubro de 2016

1 de Outubro

É o primeiro dia de Outubro, desço da cabana até ao alambique
Onde cai em fio lento a aguardente para um garrafão,
Passando por uma cana onde uma espiga de trigo pendurada
A guiar a queda, corto o fio quente com o meu dedo
De onze anos umas três vezes e provo a aguardente
Doce, o ar promete chuva, o horizonte promete tudo,
Cinzento, já se devia adivinhar o resultado de tanto dedo,
Subi as fragas de volta à cabana, mais quente,
Maior, começa a chover sobre o telhado improvisado,
É o primeiro dia de Outubro, fecho os olhos para
Mais facilmente encontrar aquele sabor, aquele cheiro
A outono no ar, aquele horizonte que já nada promete,
A não ser distância, a cabana durou menos que a infância,
Às vezes ainda me fecho nela antes da chuva,
Outras vezes fecho-me em incontáveis mãos de sede
Mas nada se compara àqueles três dedos destilados de infância.

01/10/2016

Turku


João Bosco da Silva

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