Morreu com aquele verão dos seus dezasseis anos, a sua
primeira morte,
O ano em que as torres dos filmes caíram de verdade e só
anos depois
Voltaram a aparecer, o ano em que, depois de um poema sobre
a queda
Por aquelas mãos que se queriam à volta da gaita, deu-se
conta que era poeta,
Mesmo que aquelas mãos continuem a esgaçar homens mais
práticos de números,
Até deus deixou de se engolir ainda com calos da cruz das
procissões
E o riso contido do dente da velha a bater na patena,
engolindo a hóstia
Com fome de tudo e sonhos apagados, morreu antes dos amigos
Terem provado o que ele provou no quarto escuro do avô,
O primeiro avô morto, a cona de uma miúda de treze anos
E a sua língua pelo tesão quase imberbe acima e abaixo,
Os seus primeiros pelos loiros do mento brilharam ao luar,
Uma alegria que não se voltará a recuperar por mais conas que
prove
E naquela noite testou a resistência da pele do prepúcio
Até adormecer com o ressonar dos pais ao lado,
Agora dorme descansado ao lado do esquecimento,
Aquela primeira morte que foi arrefecendo nos bancos de
jardim geados
E recebia, morto já, de braços abertos, vazios, autocarros
Vindos da capital até às mãos nos bolsos atrás da junta,
Com uma fome com a morte ali à mão e a outra em casa com a
promessa
De que nunca aquele vestido azul no chão de um mesmo quarto,
E os poemas continuaram como as faúlhas de uma cremação
demorada ao ar livre
Numa noite de inverno e não têm sido muito mais que isso, um
desagrado à ausência.
Turku
02.01.2017
João Bosco da Silva
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