Haikus À Beira Mar
A chuva lavou o sangue
do alcatrão
não da memória.
Queixam-se os seixos
quando o mar
regressa.
Batem-se os seixos
pela água
que ao mar regressa.
Ninguém se vira
antes da
tempestade.
Até as pedras
cheiram a lavanda
em Nice.
Em cada ruela
um rumor
de lavanda.
Que dia
gloriosamente
azul.
Não chovem pérolas
das varandas –
Carnaval.
Bem barata se vende
a russa
com o velho na praia.
Amassam as ancas
o pão
que não se come.
Engole-se o pastis,
ouve-se o mar –
nem uma cigarra.
Estes miúdos agora
toda a vida
que me passou.
“Aqui dormiu James Joyce” –
ando há anos
para pegar no Ulysses.
Nem só de fome
vive
o pão.
Ao Sol o mar azul
sonha poetas
verdadeiramente dignos.
Esculpe os sonhos
a sorte
como os termina a morte.
Caminham os sonhos
para o esquecimento
ou para a perdição.
Há sempre uma desculpa
na partida
como na chegada.
Nice
Fevereiro 2017
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