domingo, 19 de fevereiro de 2017

Haikus À Beira Mar

A chuva lavou o sangue
do alcatrão
não da memória.

Queixam-se os seixos
quando o mar
regressa.

Batem-se os seixos
pela água
que ao mar regressa.

Ninguém se vira
antes da
tempestade.

Até as pedras
cheiram a lavanda
em Nice.

Em cada ruela
um rumor
de lavanda.

Que dia
gloriosamente
azul.

Não chovem pérolas
das varandas –
Carnaval.

Bem barata se vende
a russa
com o velho na praia.

Amassam as ancas
o pão
que não se come.

Engole-se o pastis,
ouve-se o mar –
nem uma cigarra.

Estes miúdos agora
toda a vida
que me passou.

“Aqui dormiu James Joyce” –
ando há anos
para pegar no Ulysses.

Nem só de fome
vive
o pão.

Ao Sol o mar azul
sonha poetas
verdadeiramente dignos.

Esculpe os sonhos
a sorte
como os termina a morte.

Caminham os sonhos
para o esquecimento
ou para a perdição.

Há sempre uma desculpa
na partida
como na chegada.

Nice


Fevereiro 2017

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