Sólo debes bajar de las
montañas
si tienes esperanza de
volver.
Pablo Javier Pérez
López
Até além Marão
Florescem as giestas –
em todo lado
perfume amarelo.
Disculpe –
diz a pátria irmã
antes de se sentar.
Estendem as palmas
para receber o ouro –
as vinhas.
As primaveras no passeio
parecem
cães sarnentos.
Na autoestrada
um cão abandonado –
deus está de férias.
A Sakura no Japão
e as Maias em Portugal –
Primavera.
Casa de Campo
Os grilos acompanham
a dança
de fraga em fraga.
Numa toca entre as fragas
ladra um cãozinho
selvagem.
Põe-se o Sol
preguiçoso
o cuco canta.
Entre um cri
e outro cri
um passo na iluminação.
Cortado pelas linhas
de alta tensão
o vento geme.
Sobre os alicerces
da infância
a casa de campo.
Além as rosas
e eu descanso
junto às batateiras.
Já nem uma flor
na cerejeira –
a beleza é breve.
Cantam os pássaros
e os grilos –
não os que na barriga.
Diz de Bashô meu pai –
“fala de tudo
o que vê”.
As papoilas
não precisam de palavras
nas pétalas.
As metamorfoses
dos figos –
engole-se uma vespa.
Acende-se no horizonte
o ouro vermelho –
batem talheres nos pratos.
Batem as trindades
no coração de pó
de Cesário Verde.
Capital
Aqui torno
a cerveja
no que serei.
Nas minhas costas
o pombo canta
por mais uma ninhada.
Que sabe da vida
o homem
que não a consome?
De tractor no peito
desço o terramoto
até à partida das naus.
Onde te esconderás tu
passado
que não tive.
Desço até ao Comércio –
fico pendurado
num pinheiro.
Toca o sino de São Cristóvão –
levantam-se os pombos
e os turistas.
Braços abertos
religiões de cimento
e a verdade no rio.
Ouvem-se os ecos
da revolução –
partem ainda os filhos.
O rio do passado
está no coração
o do futuro ainda não.
Uns descolam
outros aterram –
satori no aeroporto.
Um sol mais perto
das nuvens
mata a sede.
Lisboa – Torre de Dona Chama – Lisboa
Abril 2017
João Bosco da Silva
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