Savon de Marseille e Fósforos Azuis
Este sabão trazido de Nice, savon de Marseille, pur vegetal,
de fabricação artesanal,
Que passo sobre a pele deste dia e que cobre o vapor de
perfume
E me traz de volta àquelas peles de noites quentes, antes da
vontade além cueca,
Aquelas emigrantes bem lavadas que regressavam à companhia
dos galinheiros e das couves,
Aquelas peles demasiado brancas para o calor da procissão,
deixando um rasto de perfume
Que se seguia atrás da cruz, este sabão laranja de jasmim
que me traz aquelas manhãs
Em que as mulheres da aldeia se juntavam para fazer sabão
azul em caixas de madeira
Forradas com plástico e na aldeia toda o cheiro da roupa
lavada no estendal da eira
Com aquelas cuequinhas e cueconas a acender e apagar sonhos
e vontades,
Este sabão para turista que me abre a porta de um banho à
hora da sesta em verões
Com menos pêlos e lava tanto o sangue das mãos do que mata
como do que salva
E me traz a caixa de fósforos de Paterson e todo o potencial
das coisas pequenas
Para abrir portas e acender vidas na nossa, na nossa pele
que todos tocam e nunca é a mesma.
Turku
10.06.2017
João Bosco da Silva
GENIAL !!! " Vou procurando as azinhagas do teu ser, estar e sentir " - Cada dia uma nova descoberta. Um grande abraço. Onde comprar as tuas obras? Dá on-line? Estou limitado para visitar lojas físicas mas gostava de conhecer mais de perto a tua obra.
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