segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

"they are not going to let you" 

Quando te sentas numa esplanada em Montmartre, bebendo o Sol de Junho 
Num copo de vinho tinto aceso à tua frente, parece que até o Inverno é impossível, 
Não passa de uma personagem de ficção num livro russo, custa a acreditar 
Que os dias possam ser cinzentos e que possa haver quem desejou ver-te 
Caído numa tempestade de vida, coberto de lama, solidão e vontade de fim, 
suicídio torna-se numa ideia ridícula que se apaga com o zumbir de um besouro numa lavanda 
E se por acaso morresses naquele momento, que se foda, os lábios manchados de vinho 
Com todos os que tocaram, o peito cheio de olhos e tinto e pupilas francesas 
De saias curtas e todos os sonhos que podiam acordar juntos, 
Depois vês o mesmo grupo de soldados passar pela quinta vez, 
O teu amigo não veio, nem disse mais nada, o Sol parece ensonado 
E os dedos escrevem como bêbados a escorregar no gelo negro, 
Sabes que a tarde acaba, que foi apenas isso, mas foi tudo e tanto em tão pouco 
E por momentos nunca houve geada, nem insónia, nem medos, nem traições, 
Nem morte de carne e osso, só um prato cheio de mexilhões. 

Turku 

19.11.2017 

João Bosco da Silva 

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