"they are not going to let you"
Quando te sentas numa esplanada em Montmartre, bebendo o Sol de Junho
Num copo de vinho tinto aceso à tua frente, parece que até o Inverno é impossível,
Não passa de uma personagem de ficção num livro russo, custa a acreditar
Que os dias possam ser cinzentos e que possa haver quem desejou ver-te
Caído numa tempestade de vida, coberto de lama, solidão e vontade de fim,
O suicídio torna-se numa ideia ridícula que se apaga com o zumbir de um besouro numa lavanda
E se por acaso morresses naquele momento, que se foda, os lábios manchados de vinho
Com todos os que tocaram, o peito cheio de olhos e tinto e pupilas francesas
De saias curtas e todos os sonhos que podiam acordar juntos,
Depois vês o mesmo grupo de soldados passar pela quinta vez,
O teu amigo não veio, nem disse mais nada, o Sol parece ensonado
E os dedos escrevem como bêbados a escorregar no gelo negro,
Sabes que a tarde acaba, que foi apenas isso, mas foi tudo e tanto em tão pouco
E por momentos nunca houve geada, nem insónia, nem medos, nem traições,
Nem morte de carne e osso, só um prato cheio de mexilhões.
Turku
19.11.2017
João Bosco da Silva
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