Os Cães De Kafka
Porque me olhas com essa cara Kafka, levei 16 anos a chegar ao castelo,
Há tanta ruela por onde um gajo se perder, nem sei como ainda ando na rua,
Quanto cão vadio já foi lançado da ponte dentro de um saco de adubo,
Nitrolusal 20.5, dois paralelos roubados do bairro da igreja,
No verão quando seca tudo menos a vontade, lá se vêem,
Os ossos a escapar pelos buracos, enquanto fodes uma finlandesa
Fascinada pelos 36 graus e meio do teu sangue à sombra,
Sem o teu primo sequer imaginar que o futuro tudo engole,
Até os dias sem chave na porta, agora essa cara, esses olhos,
Que eternidade queres enganar tu, já perdi a conta às manhãs
Em que acordei com um exoesqueleto à volta da polpa do que digo ser,
O livro emprestei-o demasiadas vezes, duas, nunca mais regressou,
É um processo complicado este de viver livre do outro lado das grades,
Troca o passo, vira e volta e às tantas estás onde nunca saíste,
É engraçado, tudo o que tenta amordaçar um cão sem dentes.
24.07.2018
Turku
João Bosco da Silva
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