Manhãs Perdidas
Raras são as manhãs em que parece entrar-te pelo nariz
O cheiro de outros verões, antes da vontade da carne
E da sede por vergonha tomarem conta da direção dos dedos,
Aquelas manhãs antes do negrilho secar, antes da aflição dos gatos novos,
Aquelas manhãs com cheiro a papel e pão fresco,
Um leite que se tolerava bem, o que se engolia e o que se aguentava,
Os pardais perderam o medo, na cara o Sol não planta sardas que sejam
E o cabelo já não sabe o caminho para a iluminação,
Só espero que o meu pai eterno, a minha mãe eterna
E o vizinho do cavalo sempre uma alegria genuína e rara
Quando regresso, não tarda arrefecem as pedras
E todas aquelas manhãs quentes tão impossíveis
Quanto os sonhos ridículos da infância.
Torre de Dona Chama
22.08.2018
João Bosco da Silva
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