domingo, 2 de setembro de 2018

Manhãs Perdidas 

Raras são as manhãs em que parece entrar-te pelo nariz 
O cheiro de outros verões, antes da vontade da carne 
E da sede por vergonha tomarem conta da direção dos dedos, 
Aquelas manhãs antes do negrilho secar, antes da aflição dos gatos novos, 
Aquelas manhãs com cheiro a papel e pão fresco, 
Um leite que se tolerava bem, o que se engolia e o que se aguentava, 
Os pardais perderam o medo, na cara o Sol não planta sardas que sejam 
E o cabelo já não sabe o caminho para a iluminação, 
Só espero que o meu pai eterno, a minha mãe eterna 
E o vizinho do cavalo sempre uma alegria genuína e rara 
Quando regresso, não tarda arrefecem as pedras 
E todas aquelas manhãs quentes tão impossíveis 
Quanto os sonhos ridículos da infância. 

Torre de Dona Chama 

22.08.2018 

João Bosco da Silva 

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