Nos Olhos Deste Cão
Nos olhos deste cão branco, um salto até ti, que já não estás,
O mesmo olhar da cadela que nos deste, encontrada,
Abandonada num verão qualquer, sempre uma alegria
Quando nos visitavas, sempre uma tristeza agora
Quando tropeço na evidência da tua ausência,
Nunca mais no teu olhar, que tantos horrores trouxeram
Do ultramar, sempre me ensinaste a única verdade sobre a vida,
Que temos que a viver, contra todas as tosses e frios,
Uma única vez e devemos agarrar como tudo o pouco
Que o destino nos oferecer, seja um grupo de alemãs
Com incêndios entre pernas, seja uma vizinha francesa
A precisar de uma mãozinha na solidão insaciável,
Um bom tinto da colheita do amigo, a liberdade de certas distâncias,
Os prazeres puros que a língua nos permite,
Este cão branco, olha-me como se me conhecesse de verdade,
Sempre encontrei multidões nos olhos dos cães,
Amigos perdidos, amores esquecidos, sonhos que a luz da primavera
Do dia apaga, a cadela morreu num verão quente,
Há sempre um mais quente que o anterior, tudo caminha
Ano após ano para o inferno ou o esquecimento,
Contudo vamos vivendo e resgatando de onde podemos o irremediável.
Kaskinen
06.08.2018
João Bosco da Silva
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