No Restaurante Avissinia
com Rimbaud, Platão, Sócrates, Henry Miller, Confúcio e Tatiana Faia
Cheguei ao ponto em que nunca traficarei armas na Abissínia,
Fiquei encalhado nas minhas vírgulas e versos tão longos como vazios,
Consegui sentir-me invisível na Acrópole, sorri até por me lembrar
Daquela noite de Julho quando li o Banquete de Platão,
E me pareceu mais cheia do que todas as pedras nuas,
Já pouco espero da amizade, muito menos ser salvo de um abismo
Que o meu próprio vazio escavou, mas afinal há quem nos encontre
Ao fim de uma tarde de pesadelo em ar-condicionado e nos leve
A ver, entre pinheiros, uns buracos numas rochas, que uma prisão,
Onde dizem Sócrates ter estado preso, e nos liberta, o mestre disse,
Não uses o canhão para matar mosquitos, ou algo do género,
Numa outra noite que nunca aconteceu, esta tarde foi verdadeira
E o cansaço nem ousou impor-se quando a invisibilidade sucumbiu
À amizade, vomitei ali mesmo todas as sementes de girassol,
Como se de um vazio se tratasse e fomos jantar ao restaurante Avissinia,
Parece tudo tão breve quando se trazem ruínas dentro.
Turku
30.08.2019
João Bosco da Silva
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