Em casa dos meus pais
não me encontro
nos espelhos.
Voam duas libelinhas
apaixonadas -
seca o exosqueleto no junco.
Passa a água
diluem-se as memórias -
mosca pousa na merda.
Cai uma folha
na água -
Julho ainda.
Amanhã haverá festa
quando
as lágrimas?
Esta brisa como solidão
sede de silêncio
um espaço vazio.
Dourada pelo Sol
a minha pele -
verde sempre verde.
Que procuras libelinha
na sombra do rio
ao entardecer?
Para quem o que
no ar desenhas
libelinha?
Roça o pinheiro
no eucalipto -
o céu ignora.
A água que há pouco
no corpo
agora eu.
Eu que depois
do último suspiro
tudo e nada.
Olhos em Espanha
pés em Portugal
lembra-me o invisível.
Quantos destes
ainda os pinheiros
da minha infância.
Escorre a prata
em direção aos sonhos -
verde distância.
Não sei se a brisa
se um pássaro
que passou.
Tanto verso inútil
e aqui
mais três.
Trinco a sombra verde
do pinheiro manso -
encho os pulmões de calma.
Atrás da montanha
a nuvem
desaparece.
Sacho na terra
gota de gente -
aço quebra.1
Pétalas no ar
na minha pele
as tuas lágrimas.2
Na floresta de pedra
dorme o cão
sem dono.
Olha-se pouco
para as estrelas -
amanhece.
Na vila adormecida
ladra um cão -
estrela cadente.
Cantam os grilos
na noite lenta -
o gato adormece.
Na mesa sem gente
a faca
inocente.
Passa por mim
o vento -
assobiamos.
Muitas folhas caíram -
cada vez
sei menos.
Tudo fecha
tudo arde
fragas permanecem.
Já a chuva lavou
o papel onde
se limpou o cu.
Este tédio
que zumbe -
canícula.
Sombra que nada
apaga -
distância.
Ouço no pinheiro
o verde
que passa.
Eu e o gato
passamos
como tudo.
Essa longa
despedida -
vida.
Cheguei verde
despeço-me
amarelo.
Cidões-Seixas-Moledo-Torre de Dona Chama
Julho2019
João Bosco da Silva
1,2 Co-autor Nuno Bernardo
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