Natal Em Berna
É Natal, do outro lado da rua os turistas tiram fotos
Ao lado da casa onde Einstein morou uns anos,
A madeira crepita na lareira centenária e Kerouac
Remenda o saco-cama podre como uma cirrose,
Deitado nesta poltrona numa cidade estranha,
Sinto-me em casa, a família está junta,
Contudo sinto que é um estranho quem segura
O livro que releio, estas mãos, sempre tão cheias
De distância e prontas para o vazio,
Da janela a rua cinzenta espelha-me a alma
E no lume ardem as memórias que já não me pertencem,
Enquanto a noite se aproxima sou esquecido por tantos,
Mais uma página para nada, seja ela em branco então,
O Natal tornou-se num beliscar para ver se ainda se está acordado,
Aos meus pés o gato é a capa de um livro que nunca escreverei,
Uma companhia aos tantos que escrevi para o mesmo efeito,
Como todos os Natais que se repetem
Como o dizer o próprio nome em voz alta no escuro,
É Natal e a chama de uma vela, sem gravidade, é redonda.
Berna
25.12.2019
João Bosco da Silva
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