Tristessa
A tristeza é um lugar de onde não se foge, habita os ossos,
Dos poetas e dos bancos vazios do café da aldeia,
É um mês que se odeia e dura mais que os anos,
É uma sede ao acordar numa manhã gelada,
É a roupa geada no estendal enquanto alguém acende o lume,
Não se apaga com beijos, ignora-se apenas enquanto
O Sol se põe na Acrópole em tons púrpura de eternidade,
A tristeza é a cor perdida das estátuas clássicas,
É o amor frio, que espera na cama o primeiro toque,
É o primeiro olhar que nunca se repete,
A cegueira que o nevoeiro dos dias injecta na alma,
A tristeza é um poema enquanto a música acaba
E fica só o silêncio e as palavras à espera de um leitor
Que não diga, valente merda, mesmo que o seja,
É o cheiro a cera e flores podres num cemitério minhoto,
É a vontade de tudo em tempo de nada, mãos demasiado vazias
Para a eternidade possível das palavras,
É o nome de uma prostituta pela qual Kerouac se apaixonou,
A tristeza é uma piscina pública no Inverno e o seu silêncio
Frio de folhas castanhas sobre o azul impossível do Verão,
A tristeza é a caneca vazia e o frigorífico cheio
E a certeza que amanhã será mais um dia triste.
Turku
05.12.2019
João Bosco da Silva
Adorei. Fez-me sentir essa tristeza que levo dentro. Há algo de saudoso nessa tristeza. Parece uma triste saudade ou uma saudade triste.
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