Vazio em Copo Sujo
Estou demasiado cansado, podia ir dormir, mas estou
demasiado cansado,
Vou em vez, abrir mais uma garrafa de vinho, chupar o passado
Da medula óssea, passar a língua nos dentes e fingir, que de
olhos na parede,
Estou outra vez lá, onde fui, com as unhas cravadas no musgo
fresco,
As calças de ganga rasgadas pelo granito das fragas, chumbos
quatro e meio
Entre os dentes, com os pardais na mira, aquelas pernas
brancas das procissões
Do verão, o cheiro do único quiosque da terra a jornal
fresco e banda-desenhada,
O amor num toque monotónico quando o saldo quase zero,
Contar os caracteres, esperando que o amor não demasiado
longo,
Em vez de, uma garrafa de Bordeux, mais uma garrafa de
Bordeux,
Antes era apenas uma cor na boca da minha mãe, cor de vinho
quase,
Hoje estou demasiado cansado, até para dormir, porque para
dormir
É preciso força para estar vivo e há dias do tamanho de
anos,
Que até o sono me dá vontade de uma cama fria, um corpo
ausente,
Mais um ridículo universo apagado, um copo vazio, lábios lívidos esquecidos.
Turku
28.10.2020
João Bosco da Silva
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