Colegas de Trabalho
Tanto amor pelo plástico colorido, pela carne borbulhante
como sangue aceso,
O helicóptero leva mais um corpo meio apagado ao cansaço dos
hospitais centrais,
Alguém tenta dormir sobre uma almofada babada, depois de
duas miligramas
De adrenalina e cento e cinquenta joules até um pulso, um
ritmo acendido
Num corpo sem gás, amanhã alguém decidirá que não vale a
pena,
Conseguimos adiar mais uma morte, foi apenas isso, como
acordar mais um dia,
Conseguimos adiar mais uma morte, seja num corpo sem morte
anunciada,
Ou num corpo cujo mistério espera o acidente do acaso, a carne
borbulhante,
As nádegas palpitantes nas pupilas mal iluminadas, no sonho,
a vontade
De um abraço estrangulador, aquele cabelo loiro, espesso
como o esperma
Prometido num olhar, alguém diz que tem o terceiro filho a
caminho,
Nunca ninguém acusou que o que engoliu lhe tenha impedido a
próxima menstruação,
Aquele cabelo espesso como a vontade impossível, quinze anos
mais jovem,
Mas nas papilas a vontade clara da decadência do abuso
consentido,
Será que me sonhas agora, como eu sonhei aquela miúda das
limpezas,
Naquele verão ainda longe do outono, enquanto te ofereço num
copo minúsculo
Um líquido branco, que te cura da azia causada pela mixórdia
de leite azedo
Que engoliste do teu jovem marido, e aceitas, dizendo que
tanto, tragas tudo.
Turku
29.10.2020
João Bosco da Silva
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