Lama e Esperma na Primavera
para Hanna,
Esperar numa manhã fria que abrisse a estação de serviço,
A promessa de um café quente e a tua chegada, o lago
ondulante,
Com ar recriminador, nunca fui de acordar cedo, para o que
fosse,
Estacionas o carro emprestado pelo teu homem,
Sais com a naturalidade desenvolta de sempre e vens ter
comigo,
Na cafetaria da estação uma empregada que conheces,
Traz-nos café, não sei que mentira lhe atiras com os dentes malandros,
Eu a cozer por dentro uma úlcera ou qualquer outro aperto,
Não fosse a vontade dos tomates maior, ou a vontade de
cuspir
No amor alheio, não sei, mais tarde no carro como se me
desses
Uma boleia inócua, entras por um caminho de terra,
A manta nos bancos de trás, eu tinha ficado de trazer os
preservativos,
Mas nem isso e a manhã não estava para piqueniques,
Páras o carro ao lado de um aeródromo abandonado,
Saímos e entramos nos lugares de trás, beijas-me como quem
começa
Uma coreografia ensaiada, o carro cheira a homem, óleo, pó,
botas de trabalho,
Mas logo desaparece, quando mergulho a cara nas tuas mamas
brancas,
O gosto a carne leitosa domina o ar, tento descer e
provar-te a cona,
Mas procuras-me a gaita, sem oral, dizes, vamos foder
apenas,
Quase como uma regra moral qualquer, enfias-me a tripa de latex
No caralho e montas-me, fodes-me com um desespero estranho,
Gemes com uma doçura que nunca teria imaginado em ti,
Enterras-me a cara no teu pescoço de leite e rebuçado,
Começas a vir-te quase num choro alegre, aproveito e
deixo-me verter,
Aliviado, dentro do saco, não aguentava mais aquele trote,
Arranca-mo, limpa-me a gaita com um lenço de papel,
embrulha-o
No lenço e atira-o pela janela, para a manhã fria, veste-se
E entra para o lugar do condutor, esperando por mim,
Eu ainda lutando com a melancolia pós-coito, de calças no
fundo dos joelhos,
Ridículo, o cheiro a casaco velho de flanela regressa,
Vamos, diz-me ela da frente, acabamos atolados na lama do
caminho,
Durante quase uma meia hora tentamos tudo, acabamos por nos
resignar,
Liga a uma colega nossa, o marido virá de tractor, eu salto
para a floresta,
E ando à deriva naquele solo pantanoso de primavera nórdica
o que
Pareceu uma eternidade, a manhã tornou-se quente, finalmente
transpiro,
Atravesso a pista de aterragem conquistada por ervas
daninhas,
Outra eternidade e o Sol começa a apertar, atravesso um
campo
E chego finalmente a uma estrada, ela liga-me e calças de
equitação vêm ter comigo,
Parámos numa clareira, estende a manta, trazia uns pães e
cervejas,
Comemos e bebemos ao Sol, como se tivéssemos acabado uma lavoura,
Passados uns dias o homem regressou, passadas umas semanas,
Soube que estava grávida, nunca mais voltamos àquele aeródromo,
Nunca mais fodemos, serei ainda uma memória lamacenta, a
foda kármica mais rápida.
23.12.2020
Turku
João Bosco da Silva
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