terça-feira, 23 de março de 2021

Escitalopram

 

Continuam-se a fazer listas negras, colecionar esquecimentos furtivos

Na facilidade aparente de um novo amanhecer, somos todos carne para canhão,

Nada levaremos da vida e pouco do que deixarmos, ficará a ecoar,

Capricho inconsciente das engrenagens cósmicas, cada mundo além órbitas,

Nada mais verdadeiro que o cheiro da lavanda há momentos esmagada,

Nos dedos, os mesmos que encontram a veia, empurram o êmbolo

E trazem o susto de volta, um suspiro longe da luz, os mesmos

Que na suculenta carne sibilante, acendem gemidos e promessas fugazes,

Tornados num número redondo, num silêncio que engolirá todos os ecos.

 

23.03.2021

 

Turku

 

João Bosco da Silva


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