Pouilly-Fuissé e Nada
Podia estar a fazer pipocas, mas continuo a alimentar
ilusões,
Desperdício de copos embutidos, Pouilly-Fuissé, vinhas
velhas,
Torna-se cada vez mais difícil mencionar o que leva um gajo
a isto,
Alguém me diz que pena, amanhã tenho que trabalhar,
O resto está tudo longe e há muito deixou de valer a pena
Meter mais gente neste raio de vida, não consigo sequer
Atender toda a gente nas férias de pobre que me são
possíveis,
Entretanto adormecem, eu fecho a porta da varanda,
Encho o copo e aqui estou, a pensar que realmente também eu
Não fui feito para viver, seria uma pedra excelente,
Aguentaria sol de quarenta graus, ventos e tempestades,
Tinha que ter calhado ser carne e fraca, com vontades
Maiores que a miséria, ainda por cima com tantos anos
E tanto ressentimento e ódio e azedou o vinho e o azeite rançoso,
Amanhã, depois do turno da tarde e não faço ideia do
Que estão a planear, parece que estou em Tenerife,
Há séculos atrás, a foder minhotas, sevilhanas e o que as
tempestades
De areia traziam dos nórdicos, acordar sabe-se lá onde
E a sorte de ter o hospital logo ali, turno da tarde,
A guia turística finlandesa a procurar as cuecas nos lençóis
Enquanto eu a tentar dar com a saída do condomínio, não
bebas muito,
Que esperam, chá ou, mas este Pouilly-Fuissé, nunca me teria
Preocupado com cerveja morta e cona aborrecida, isto sim
Toca nos sentidos todos com dedos de quem sabe que a
eternidade
É um verão que não chegou a amadurecer as uvas e tudo acabou.
Turku
24.05.2022
João Bosco da Silva