Depois de Ler o Poema de um Crítico
Afinal, não passas dum pôr-do-sol raquítico,
Com promessas lentas e medos ocultos, um vício
Peçonhento que usa as palavras como um corpo
Que gostaria de ter, não me custa muito a carne,
Só o passo na perdição, como se alguma vez algo nas mãos,
O bom de ser pobre é não ter medo de ir sem dizer adeus,
Os elevadores fecham e adeus pizza e táxi pago em Guimarães,
Os olhos fecham e adeus dia de merda que se confunde
Com a maioria, vida de engrenagem, viver para meia dúzia
De dias no ano, um pôr-do-sol raquítico,
Usando palavras de peso como as bilhas de gás vazias
De outro poeta, querias este mosaiquinho de santinho,
Na casa portuguesa com certeza da poesia,
Há mais ratos na terra que batatas, o ano é mau,
A vida é um mistério à espera de uma detonação súbita,
Que queres que te diga, que te amo ou que te respeito,
Há sempre um mundo que dorme, enquanto engenhas
Os teus pecados de purgatório, o segredo é saltar,
Deixar cair quem cai, não se julgar dono de nada,
Usar as palavras como o corpo para o sexo,
Cada um faz como quer, não se gasta e está sempre bem,
Pensa nisso na tua próxima masturbação violenta.
Turku
16.05.2022
João Bosco da Silva
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