Borralho 8
Quem sou eu agora, para aquele garoto que se sentava
A cavalo do pastor-alemão da passadora galega viúva,
Na cozinha do fumeiro, enquanto as chouriças pingavam
Uma gordura laranja na alma, o meu sonho da altura
Era ter um fato branco como o Don Johnson no Miami Vice,
Garoto realista não sonhava sequer com um Ferrari
Testarossa,
Será a viúva viva ainda, com a pastora que julgou que o
busto
De Jesus Cristo sob o papel de embrulho era um cão, o cão
era León,
Tinha morrido como a infância, e julgou ser sacrilégio o
engano,
Quando todos nos rimos das cadenas de adolescente
Presas ao pescoço longínquo do encantador de pastores-alemães,
O ridículo das modas que regressam décadas depois,
Tornando outros adolescentes nas incertezas que me atormentavam,
A frescura será sempre a água gelada daquele cano
Ao pé daquelas ameixeiras em Pontebarxas, a inocência
também.
25.10.2022
Turku
João Bosco da Silva
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