segunda-feira, 31 de outubro de 2022

 

Convalescença

 

Não tenho nada novo com o que sujar as páginas em branco,

Nada do que tentei salvar, valeu realmente a pena,

Foi tudo um exercício no ridículo, afinal a lição mais útil

É aquela que ensina a abrir a mão de tudo,

A que treina os olhos a verem o passar do tempo,

Sempre estiveste mais morto do que vivo, não te apegues,

Goza sem ilusões de eternidade, não vale sequer a pena

Tocar na beleza da efemeridade, é o que é,

Aceita os cabelos brancos como a juventude que ainda

Te abre as pernas, se contares todos os crepúsculos,

Será agora mais fácil localizar a que distância

Foi o primeiro mergulho sem engolir água,

Passaste metade da vida um niilista angustiado

Com o vazio das mãos, agora que a angústia rebentou

Como um balão, sentes-te um iluminado, olhando adolescentes

Ignorantes de que dez anos não são nada e levam tudo,

Uma guerra pode levar todas as certezas e redes de capoeira,

Tudo é certo como o sonho que mal lembras ao acordar,

Deixa-te levar, não tentes, o pior de tudo é tentar.

 

Turku

 

26.06.2022

 

João Bosco da Silva

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