Convalescença
Não tenho nada novo com o que sujar as páginas em branco,
Nada do que tentei salvar, valeu realmente a pena,
Foi tudo um exercício no ridículo, afinal a lição mais útil
É aquela que ensina a abrir a mão de tudo,
A que treina os olhos a verem o passar do tempo,
Sempre estiveste mais morto do que vivo, não te apegues,
Goza sem ilusões de eternidade, não vale sequer a pena
Tocar na beleza da efemeridade, é o que é,
Aceita os cabelos brancos como a juventude que ainda
Te abre as pernas, se contares todos os crepúsculos,
Será agora mais fácil localizar a que distância
Foi o primeiro mergulho sem engolir água,
Passaste metade da vida um niilista angustiado
Com o vazio das mãos, agora que a angústia rebentou
Como um balão, sentes-te um iluminado, olhando adolescentes
Ignorantes de que dez anos não são nada e levam tudo,
Uma guerra pode levar todas as certezas e redes de capoeira,
Tudo é certo como o sonho que mal lembras ao acordar,
Deixa-te levar, não tentes, o pior de tudo é tentar.
Turku
26.06.2022
João Bosco da Silva
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