Merda de Cão
A caminho do centro da cidade, em frente a um restaurante
indiano,
Um homem arranca dum bolso um saco de plástico,
Que com grande dificuldade de luvas, tenta abrir,
Ao seu lado, um cão felpudo olha para um grupo de cagalhões
No passeio, com ar de alívio e vergonha, o saco que não quer
abrir
Em direção à merda canina e a na cara do homem uma frustração gelada,
Ali mesmo, eu e a poesia, o ridículo no seu esplendor,
Eu o cão e o homem, os meus dedos naquelas luvas,
O saco que não quer abrir e a merda ali, fresca, à vista
Do mundo e das narinas mais perspicazes e sensíveis, toda a
Inspiração possível ali, à espera que eu a apanhe e a amasse
Num poema, lhe dê uma forma qualquer, eu apenas aliviado
E envergonhado pelo producto resultante de tal necessidade,
Nunca fui afinal poeta, muitos tinham razão, andei apenas a
passear
Um cão que viveu dentro de mim todos estes anos,
Agora alimento-o a vinho e solidão, caga pouco e ladra menos,
Durmo melhor à noite e quando acordo, não me interessa
sequer
Se o saco não se quer abrir na inabilidade dos dedos
gelados.
28.01.2023
Turku
João Bosco da Silva
Sem comentários:
Enviar um comentário