segunda-feira, 27 de março de 2023

 

Aquele Bolo com um Compal

 

Não sei medir a felicidade plebeia de atravessar aquela ponte

Sobre altura e nada, em direção a casa dela, a mulher mais exótica

Da vila, modelo na Coreia, meia galega, neta da minha vizinha,

Alta como um sonho quase possível, um bolo e um Compal

Que ela pagou num café quase vazio, que interessa saber tocar

Chopin num desafinado piano herdado dum apelido

Menos comum e um antepassado que em vez de caçador

De javalis e bebedor de vinho xistoso, o descobridor dum calhau

Vazio no meio do medo e da incerteza, viver sem medir apelidos,

Peças de música imortais, todos os clássicos que não se leram,

Um bolo e um Compal depois do trabalho da meia galega,

Antes de nos fecharmos naquele quarto alugado às escuras,

Para cá do Marão, desenrolando suspiros e gemidos,

Desvendando espasmos e dilatações com o espanto da juventude,

Até adormecermos ao som de um cantor Pop, longe das ondas

E deste corpo que hoje arrasta a tinta pela página fora,

Como se fosse tempo, tentando apanhar ao menos

Um momento, uma migalha daquele bolo com um Compal.

 

Turku

 

27.03.2023

 

João Bosco da Silva

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