domingo, 23 de fevereiro de 2025

 

 

 

Não te cubras de angústia, agora que o visco

Dos teus desejos não será sentido

Na pele alheia que te ignora,

Foram belas as noites à beira do rio,

As rãs cantam na mesma língua,

Só as certezas se tornam cada vez

Mais raras, como o cabelo

E os medos tão evidentes e inúmeros

Como os que sobram, brancos,

Uma vergonha nos espelhos,

Não te cubras por isso de angústia,

Ou saudade, tudo lá ficou, tudo lá está,

Basta recordares, ouvires as rãs,

Deixares-te levar pelo aroma fresco

Do rio no início da primavera,

Longe dos primeiros degelos,

De todos os amores, que também

Eles envelheceram, se tornaram

Uns em vergonhas, outros em nostalgia,

Nenhum foi, contudo, inútil,

Tudo acrescentou significado

Ao cantar das rãs e valor ao silêncio.

 

23.02.2025

 

Turku

 

João Bosco da Silva

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

 


Corda bamba

 

Quando os dias estão cheios,

Não há espaço para a poesia,

Nem se repara se chove

Ou se faz sol, o tempo passa,

Seja do passado para o futuro

Ou vice-versa, nada do que fazes,

Fizeste, ou farás é, realmente,

Escolha tua, há uma só linha,

Todas as infinitas possibilidades,

Não te pertencem, nem te seguram

O pêndulo, quer o tempo corra

Em que sentido correr,

O desfecho será o mesmo,

Apagamento da tua consciência

E ilusão de individualidade,

Não corras, que não é possível,

Deixa-te levar, não te rebaixes

Nem te eleves, vai esquecendo,

Facilita o regresso ao nada.

 

06/02/2025

 

Turku

 

João Bosco da Silva

terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

 

Poeta

 

O meu pai disse-me hoje

Que ia plantar umas árvores,

Deixar assim frutos ao futuro,

Não há poema meu que lhes

Sobreviva, só queria que, também

Ele que as planta, pudesse,

Num dia quente de verão,

Gozar da sua sombra

Na companhia do futuro

Que lhe provará os frutos.

 

04/02/2025

 

Turku

 

João Bosco da Silva