Lohengrin
Enquanto ouço Lohengrin, sinto o gentil peso
Do teu sono no meu peito, fecho também eu
Os olhos para saborear mais profundamente
A tua companhia imaculada, sinto todo o peso
Dos anos lavar-se da cara que me veste,
Uma leveza morna, como o leite nas manhãs
Da infância, inspiro fundo, como se há anos
Numa apneia, estou longe, sinto o cheiro fresco
Da terra revolta pela enxada do meu pai,
Adivinho o brilho da gota de orvalho numa couve,
Sinto-me longe de ser sábio e do inferno,
No ribeiro ao fundo da encosta da vinha,
Eleva-se uma bruma, vozes que não partiram,
Está tudo no lugar certo e o mundo ainda
Um mistério justo que faz sentido, tivesse eu
Sempre o bálsamo da tua serenidade restauradora,
Em breve verás pela primeira vez o regresso das folhas,
O inverno foi meigo, não prometo melhoras,
Mas entrego-te os meus braços para sempre.
Turku
25/02/2025
João Bosco da Silva
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